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Mulheres fatais e a musicalidade literária


O parisiense Mérimée teve uma vida intensa, dedicando-se a diferentes atividades, entre elas a preservação de monumentos históricos e a arqueologia, além da literatura. O sucesso de Carmem deve-se, inegavelmente, à opera de Bizet, que soube aproveitar o enredo, mostrando o romance através dos olhos de Don José, como está no texto original. Carmem é bela, fascinante, exótica e suas atitudes anticonvencionais, pelos padrões burgueses, esclarece Mérimée, vêm de sua cultura. O relato de Don José é acrescido de um breve estudo sobre os costumes ciganos – que até hoje intrigam os outros grupos sociais – o que demonstra a tentativa de isenção de Mérimée, que, reduz assim as considerações moralistas no romance. O afastamento do autor como condutor da narrativa pode ser conferido em Carmem e outras histórias (Zahar, R$ 69,90), que reúne todas as novelas e contos de Mérrimée, traduzidos por Mário Quintana.

O ambiente por excelência das mulheres fatais, no século XX, foi a literatura policial. A morte de Ruth Rendell, no início de maio, me levou a reler os poucos volumes de sua obra que tenho em casa – não chegam a uma dúzia. Embora as devoradoras de homens não sejam tão presentes assim em suas histórias, que sempre retrataram a sociedade a partir dos anos 1960, quando a liberação sexual alcança, enfim, as mulheres ocidentais, Ruth Rendell tinha cuidado em mostrar as sedutoras. Em Unidos para sempre (LP&M, R$ 18,90), lançado em 1975, a mulher fatal surge numa personagem secundária, interessada em conquistar o Inspetor Wexford, que busca o assassino de uma dona de casa sem o menor encanto. Em Simisola (Rocco, R$  15, em sebos), ele se vê fascinado por uma jovem ligada a um crime racial. Wexford resiste às tentações, pois Ruth Rendell quis criar um homem feliz no casamento, que não passasse a vida pulando de caso em caso, acumulando frustrações amorosas.

Quando se elogia um escritor, é comum dizer que sua literatura que suas palavras soam como melodia. Hoje é dia de fazer o contrário. Com a partida do guitarrista B.B. King, o mundo só não se empobrece culturalmente porque ele pôde deixar gravado o que ofereceu a nossos ouvidos. Ao chamar suas guitarras de “Lucille” – todas; cada uma era a Lucille da vez -, B.B. King mostrou que sabia fazer poesia musical. Seu toque nas cordas era firme, gentil, alegre como o carinho sensual, amoroso.  Entre os divertidos vídeos aos quais emprestou sua figura carismática está um dirigido por John Landis, para o lançamento do filme Into the night, estrelado por Michelle Pfeiffer e Jeff Goldblum, que participaram lado de outros “músicos” – Dan Ackroyd, Eddie Murphy e Steve Martin. Landis, além de amar esse elenco, foi o responsável pela revolução nos videoclipes com Thriller, que dirigiu para Michael Jackson. Landis reuniu novamente Ackroyd e B.B. King em Blues Brothers 2000, cercado por uma constelação de estrelas do jazz, rock, blues e pop.  E como temos a felicidade de viver na era da informação multimídia, aqui vão os dois clipes, pequenas demonstrações da arte do Rei do Blues, um literato da música.


https://www.youtube.com/watch?v=UcfsAvks4x8


https://www.youtube.com/watch?v=kmt3KPiqH5I