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Música em respeito às crianças


Aos que vão ouvi-lo, uma dica: não esperem simplificações, daquelas que costumam ser feitas em nome de facilitar a compreensão da música pelas crianças, mas que na verdade apenas subestimam o poder de percepção delas – vacilo que já comprometeu alguns discos do gênero. O clima do álbum é de imensa alegria. Encarnando o espírito circense, transmutando-se em mágicos e palhaços, K&K cantam transbordando sinceras verdades.Bons instrumentistas, Kleiton tocando violino e mais um monte de coisas que produzem som e Kledir tocando outro tanto de trecos que resultam em ruídos musicais, os dois cuidaram de se cercar de músicos que compreendessem o espírito que lhes habitava a alma – insisto em louvar tal sintonia, por considerá-la fundamental a um bom resultado musical. Com eles lá estão Caio Fonseca (violão de aço, piano acústico, piano Rhodes, órgão Hammond, baixo, guitarra, flauta doce e bigorna) e o múltiplo percussionista Jam da Silva, quarteto que não poupou variações sonoras que aumentassem o espírito lúdico das composições – elas também com intensa mescla de ritmos. Com letras reforçadas por refrões e imagens poéticas muito fortes, as harmonias e melodias seguem a tradição de bom gosto que os irmãos Ramil sempre imprimiram às suas parcerias musicais.Das doze faixas do CD, cinco foram compostas pelos dois; uma por Vitor Ramil, o irmão caçula, em parceria com Kledir e outra por Pery Souza (antigo companheiro de Almôndegas, grupo ao qual os guris pertenceram quando eram ainda muito jovens) e Ricardo Silvestrin. Há ainda duas versões de Kledir para músicas da compositora argentina Maria Elena Walsh; duas composições só de Kleiton (uma delas, sua primeira música, feita quando ele tinha nove anos); e um acalanto de Kledir para sua filha Julia.Entre bruxas, bichos, mágicos, pirulitos estranhos, pum perfumado, brincadeiras de rua e muita, muita, e emocionada cantoria (K&K se revezam em solos e em duos, às vezes apoiados por um coro infantil), tudo está assinalado por extraordinária reverência musical.Por meio de Par ou ímpar, as crianças, ainda que todas habitualmente convivam com modernidades da hora, são postas diante de uma realidade que é de seus pais, mas que também é delas, posto que criança foi feita para brincar, para ser respeitada e para ser tratada como gente pensante.Cientes disso, Kleiton e Kledir deram seu talento a um CD que servirá de referência ao dia a dia de crianças e adultos.Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4