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Nei Lopes é o cara


Nei é um dos grandes, daqueles que fazem samba com a naturalidade de quem o conhece profundamente. Suas letras não dão vez à conversa fiada. Tudo o que escreve vem do sentido que o dia a dia das ruas lhe dá. Cronista atento a cada detalhe que a muitos parece banal, as gentes lhe despertam a atenção, por isso sabe o linguajar que falam. Suas rimas vão direto ao coração do ouvinte, atiçando-lhe a curiosidade de onde será que ele vai chegar a cada história que conta.As músicas de Nei Lopes são cantadas por grandes intérpretes que nelas descobrem o lado mais esperto e mais divertido do samba. Conhecedor das várias facetas do gênero, ele, mais do que ninguém, sabe que a africanidade é direito e herança a serem reconhecidos e aplaudidos. Com jocosa capa de Mello Menezes, Chutando o Balde (Fina Flor) é seu novo CD – só de sambas inéditos. Junto com outros grandes compositores criou parcerias que logo estarão sendo cantadas nas boas rodas de samba, onde os quintais são protegidos por tamarindeiras que espalham sombra e abrigam os sambistas do calor.No álbum, três sambas têm versos e música de Nei Lopes. Em outros seis, suas letras emprestam criatividade às melodias da trinca do Quinteto em Branco e Preto – Everson Pessoa, com quem, por exemplo, Nei fez a divertida “Dicionário”, e Magnu Sousá e Maurílio de Oliveira, que deram a Nei a oportunidade de criar, dentre outras, ótima letra para “Samba de Fundamento”. Com Ruy Quaresma, arranjador e regente do CD (além de seu produtor), Nei compôs o bom “Saracuruna – Seropédica”. Com os violonistas Claudio Jorge e Luis Filipe de Lima, ele compôs dois grandes sambas: “Recordando Seu Libório”, com o primeiro, e “Águia de Haia”, com o segundo. Com Dauro do Salgueiro fez o ótimo samba “Confraria” e com o também salgueirense Luiz Fernando fez a esperta “Meia Cabeleira”.Para tocar este repertório impecável, com finura e suingue, foi destacada uma força instrumental capaz de expandir ainda mais o universo musical de Nei Lopes. A sessão rítmica traz craques como Marcelinho Moreira e Ovídio Brito, além de Jorge Gomes na batera. O piano está nas boas mãos de Fernando Merlino, o baixo está preciso com Zé Luis Maia, o violão soa com a competência de Rui Quaresma, o violão de sete está firme com Samara Líbano e o cavaco brilha sob os dedos de Alceu Maia. O competente Humberto Araujo toca saxes e flauta, além de escrever os arranjos tocados pelo trompetista Nelson Oliveira e pelo trombonista Sergio de Jesus, que com ele integram o naipe de metais.O novo trabalho de Nei demonstra o quanto a madureza de um artista pode engrandecer sua obra. Chutando o Balde é disco para ser ouvido com um sorriso nos lábios e um copo de cerveja gelada na mão.Gigante pela própria natureza da sua música, o cara é Nei Lopes.Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4