Loading...

A noite inspiradora


Hoje falarei sobre Canto da Noite, primeiro CD do cantor, compositor e violonista porto-alegrense Roberto Haag. Num trabalho conceitual muito bem realizado, as composições têm melodias apuradas, versos assertivos e harmonias adequadas.


Das dez faixas do disco, oito são só de Roberto Haag e duas em parceria com Márcio Celli. A voz de Roberto Haag é afinada, quase frágil, mas tem o poder de exprimir a personalidade do trovador. Seja a melodia suave ou forte, as notas e as palavras são extensões da energia e da originalidade impressas a ferro e fogo em sua alma.


Jefferson Marx (cavaquinho, violão, arranjos e direção musical), Luiz Mauro Filho (teclado), Edu Martins (baixo acústico), Marquinhos Fê (batera) e Giovanni Berti (percussão) integram o núcleo instrumental presente no álbum. Há também as participações especiais de Matheus Kleber (acordeom), Amauri Iablonovski (flauta) e Celau Moreyra (violoncelo), além do suíço Wege Wüthrich (saxofone).


A primeira faixa é “Quando Você Precisar”. Na intro têm destaque o baixo, o violão e a batera, esta com uma puxada que privilegia os pratos – mas a mixagem (é uma questão de gosto, bem sei) acho que exagerou um pouco no volume deles. A levada densa dá pinta de que algo denso virá. Tem-se o prazer de ouvir um lance intenso, porém simples em seu ofício de refletir o belo. Os versos finais têm gosto de amor incontido: “Se o mundo lhe der/ Pistas do início do fim/ Quando você precisar/ Não se esqueça de mim”.


Adiante, “Abrigo” reforça a impressão primeira: a consistência de letras e melodias. Seja pela naturalidade de sua voz, seja pela suavidade do arranjo, Roberto Haag ratifica que é um craque. Um cantor cujo ofício é ajuntar emoções, e, com sua sensibilidade, fazer com que aflorem à pele.


“Chama” (uma das parcerias de Haag com Márcio Celli). Além da base instrumental já citada acima, o arranjo traz o acordeom dando mel à melodia. O violão leva a intro com uma pegada marcada. Detalhes das percussões tornam o clima especial. Ao dobrar a própria voz, Haag amplia a beleza dos versos: “(...) Há um segredo/ Neste lugar/ Há uma chama que vai se apagar/ Há um segredo/ Neste lugar/ Há uma chama que vai se apagar/ Pra brilhar”.
Em “Atriz”, o baixo acústico se ajunta ao violão. Está dada a partida para mais um arranjo supimpa, no qual Haag segue fortalecendo a sensação que o sabor de seu canto só faz engrandecer. Eu não digo que ele é um grande cantor, mas solta sua voz plena de verdades e isso o torna um grande intérprete de seus sentimentos.


Canto da Noite é o primeiro trabalho de Haag, que lhe dá à luz para seguir em frente rumo ao segundo. Além de bom compositor, ele tem a manha de cuidar da emoção para firmar a afinação e o jeito de interpretar suas letras, todas oníricas, intensas.


Roberto Haag fez de seu álbum uma chave que abre portas das madrugadas – hora em que o céu exala amor e escancara o horizonte, manchado pelas nuanças da cor da noite se dando ao dia.


Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4