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O amadurecimento bate à porta


McManus fez um desse suspense mais do que um exercício estilístico, ao montar sua evolução através de diferentes pontos de vista.  Ela conseguiu também mostrar que um livro para jovens nem sempre necessita de lições moralistas, deixando ao leitor o julgamento ético do comportamento de seus personagens. Cada protagonista representa uma categoria dentro do estrato social da escola: a estudiosa que pretende entrar para Yale, o delinquente em liberdade condicional por tráfico de drogas, o atleta de olho em uma bolsa de estudo universitária que vai levá-lo à profissionalização no esporte, a bela provável rainha do baile de formatura e o blogueiro maldoso, pronto a infernizar a vida alheia, divulgando os pecados de todos, que morre depois de ingerir óleo de amendoim. A investigação policial alija os quatro sobreviventes do convívio social. Enquanto revelam seus segredos e suas inseguranças, eles passam de testemunhas a suspeitos pelo assassinato do fofoqueiro.  

A jovialidade literária nem sempre busca um leitor jovem, embora não determine a faixa etária do público. O olhar adulto de Paolo Cognetti sobre a trajetória da infância e adolescência até chegar à maturidade de Pietro, um garoto introspectivo da cidade passa as férias em um vilarejo no interior da Itália, deu para As oito montanhas (Intrínseca, R$ 39,90 ), o principal prêmio literário italiano, o Strega, em 2017. Partindo de suas próprias memórias do contato com a natureza, Cognetti – que mora em Milão e mantém um casa nas montanhas, onde passa boa parte do ano -,  criou a história de Pietro, de sua amizade com um garoto da mesma idade e das descobertas que surgem nesse distanciamento do cotidiano urbano, quando se aproxima dos pais, que também se transformam no novo ambiente.

Perder emprego, acabar um namoro e ter que superar derrotas faz qualquer um se sentir desprotegido como um adolescente. É essa sensação de “falta de colo” que perpassa boa parte de Manual da demissão (Record, R$ 32,90) de Julia Wähman. Inspirada em sua  experiência pessoal da surpresa ao ser demitida, ela descreve o turbilhão enfrentado por um grupo de desempregados em tempos de crise econômica. Uma rotina entediante repentinamente é substituída pelo vazio da falta de perspectivas, em que grandes decisões como a escolha da melhor aplicação do dinheiro de indenização atrapalham o desejo de aproveitar o resto da existência na praia. Por mais dramáticas que sejam as situações evocadas, o texto suavemente irônico de Julia Wahmann não tem compaixão pelos atônitos ex-colegas, que tateiam em busca de novas ocupações, lutando por bolsas de estudo em especializações fora do país, mesmo sabendo que dificilmente haverá oportunidades de recolocação no mercado quando terminarem o curso.