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O amigo de fé do samba


Mas, na verdade, este integrante da ala dos compositores da Unidos de Vila Isabel está na música há mais de 20 anos, quando lançou seu primeiro disco solo pela EMI-Odeon. Trabalhador incansável, ele não mede esforços para sempre buscar uma maneira melhor de expressar sua arte. Em Amigo de Fé, este grande músico, além de se revelar também um bom compositor, faz com que seu violão e seus arranjos ressoem o Brasil musical. Isto é Cláudio Jorge.Nascido na Boca do Mato, no Rio de Janeiro, Cláudio está presente com seu violão em diversos e importantes discos de samba. Dele, costuma bem dizer Nei Lopes: “Devagar com o andor, que o Cláudio Jorge é de Barros”. Carinhoso aviso, porém quase desnecessário, pois não há quem não se desvele em mil cuidados com Cláudio Jorge de Barros, o músico que aí está para traduzir com seu talento o Brasil que cada um de nós traz dentro de si.Depois de tanto tocar violão, acompanhando intérpretes entoando músicas de compositores que sempre admirou, Cláudio Jorge, devagar, devagarzinho – como lá da Vila nos ensina Martinho – deu início à sua trajetória de compositor. O samba ganhou mais um bamba.Em Amigo de Fé ele tem parcerias com Ivan Wrigg, Luis Carlos da Vila, João Nogueira, Sidnei Miller, Elton Medeiros, Manuel Rui, Nei Lopes (duas) e Wilson das Neves (duas). Nelas, o samba está presente nas suas variações que o tornam infinito em malícias e delícias. “Estrelinha e Conchinha”, só de Cláudio Jorge, abre o CD. Com o som do mar ao fundo, logo se ouve o violão e a percussão marcarem o ritmo que dá chance à voz de se fazer ouvir em bom refrão. A melodia é simples, como deve ser um canto em intenção a Olorum. Para cantá-la, CJ conta ainda com as vozes do coral TGBU. Pena que, diferentemente das C e J, facilmente ligáveis ao nome do autor da faixa, não há no encarte nenhuma “tradução” para as quatro letras da sigla que nomeia o coral.  “Amigo de Fé”, de Cláudio e Ivan Wrigg, é um samba rápido que conta com um belo naipe de metais integrado por Humberto Araújo, autor do arranjo, nos saxes tenor e soprano; Altair Martins, no trompete e flugel, e Levi Chaves, no clarone e clarinete. A cozinha, com Ivan Machado no contrabaixo e Camilo Mariano na bateria, é perfeita, garantia do suingue que tira do sério quem ama o samba. Em “Lundu de Cantigas Vagas”, Cláudio encontra na letra de Nei Lopes a tradição revelada pela harmonia que não se acanha em demonstrar contemporaneidade pelas dez cordas da viola tocada por Marco Pereira.  Sidnei Miller escreveu os versos musicados por CJ em “O Independente”. A levada das caixas, tocadas por Armando Marçal, Marcelinho Moreira e Paulinho da Aba, carrega Cláudio por este samba com ares de enredo.Mas é com “Samba de Bandola”, parceria com João Nogueira, que Cláudio atinge o ponto alto do CD. O violão se junta ao pandeiro e à cuíca para, juntos, abrasileirarem ainda mais o ritmo que tão bem se revela pelas mãos de gente que sabe tudo de samba.  Cantor de extensão vocal limitada, Cláudio tudo compensa com divisões rítmicas muito bem resolvidas. Compositor que brinca bem em letras e em melodias, com seu violão a distingui-lo, Cláudio Jorge de Barros bate um bolão nas onze. Ouvir seu disco é motivo de orgulho para os que dele não esperavam outra coisa a não ser um álbum em que o samba é um dom a ser exaltado.  Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4 e autor de O Gogó de Aquiles, ed. A Girafa. Seus textos são publicados semanalmente no Acontece na  no Diário do Comércio (ACSP), Meio Norte (Teresina), A Gazeta (Cuiabá), Jornal da Cidade (Poços de Caldas) e Brazilian Voice (EUA). No rádio, sempre às segundas-feiras, das 15h às 16h, "O Gogo de Aquiles" vai muito bem, obrigado. Você poderá escutá-lo (no Rio de Janeiro) sintonizando diretamente na Rádio Roquete Pinto, ou (fora do Rio) na internet: www.fm94.rj.gov.br .