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O angelização musical de Nelson Angelo


Pouco conhecido do público, Nelson é a tradução daquilo que resume a musicalidade popular brasileira: exuberância!Uma introdução poderosa dá início a “Relembrando a Contradança”, bossa nova composta por Nelson, na qual o seu violão harmoniza e sola com igual criatividade, enquanto o baixo elétrico tocado por Novelli se junta à bateria de Robertinho Silva. Densamente integrado, o trio demonstra sua força ao lado de quatro violoncelos (Alceu Reis, Marcio Mallard, Jaques Morelembaun e Zanite) e mais três flautas (Danilo Caymmi, Franklin e Paulo Guimarães). Juntos, dão o tom de ainda maior criatividade ao arranjo do pianista Helvius Vilela. Assim começa o CD.Egberto Gismonti e a orquestra Transa-Harmônica D’Amia do Omrac fazem de “O Caminho e a Paisagem” uma seqüência de belas modernas imagens musicais. Nela, a contemporaneidade explícita de Gismonti está presente com toda a força. O tema principal se repete feito mantra entranhado no som das cordas e do violão, enquanto segue a incisiva interpretação e o belo arranjo criados para a música de Nelson.“Manhã no Planeta” (Nelson Angelo) é outra bossa nova, só que esta com letra escrita por Cacaso. Nela, o baixo elétrico está nas mãos de Luiz Alves, mas a bateria continua a cargo de Robertinho Silva, bem como o quarteto de cellos e o trio de flautas têm os mesmos músicos intérpretes da faixa um do álbum. O arranjo é do próprio Nelson, que faz da simplicidade instrumental o jeito de valorizar os versos cantados por ele.Piano (Tulio Mourão), violão, arranjo, guitarra e voz (Nelson Angelo), Ricardo do Canto (baixo acústico), Robertinho Silva (bateria), Lincoln Cheib e Zeuler Miquelina (percussão), Danilo, Franklin e Paulo (flautas), Elmo Bruno (fagote) e Clóvis Timóteo (clarone)... Chega o balanço de “Estação Confrades”. A guitarra, ora em solo, ora junto ao baixo, ao piano ou aos sopros, é conduzida pelo ritmo da cuíca e dos tamborins e realça a qualidade melódica e harmônica deste bom samba composto por Nelson Angelo.A guitarra de Nelson inicia; o teclado de Cristóvão Bastos emite sons como se tirados de cordas e juntos deságuam em “Coisas de Balada” (Nelson Angelo e Fernando Brant). Vez por outra à guitarra se junta às vocalizações de Ana Maria Antoum. Novelli está no baixo; Robertinho na bateria. Mas é a guitarra sempre virtuosa de Nelson quem mais brilha – moderna desde sempre. O ritmo é quebrado e todos se esbaldam na possibilidade infinita descortinada à frente deles. E perder chance igual a essa não é do feitio de músicos como os recrutados por Nelson.Para tocar “Trombone” (Nelson Angelo), seu autor e arranjador foi buscar quatro cobras do instrumento: Edmundo Maciel, João Luiz Maciel, Macacheira e Norato. Juntos ou em solos, comandados pela bateria de Edison Machado, os trombones fazem o som ao qual logo se junta o vocal de Nelson. Música e músicos de primeiríssima linha.Cabe apenas a Nelson Angelo encerrar o CD com a sua “Itaobim”. Tudo começa com seu piano; vem o canto e os versos têm a sua marca; ele assobia as notas em uníssono com as teclas do piano. Com as notas mais graves do instrumento, Angelo, disposto a angelizar sua musica, tornando-a ainda melhor, conduz tudo para o brilhante fecho deste trabalho atemporal, que traz em si as marcas do passado em que foi feito. E o lança para o futuro que está aqui mesmo, bem diante de nossos ouvidos. O presente criado por um músico brasileiro que, somado a outros, faz da música brasileira a mais diversificada e a mais rica do mundo.Aquiles Rique Reis, músico, integrante do MPB4