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O atrevimento de Moyseis Marques


Desnudar-se para melhor se fazer conhecer em sua essência de intérprete, permitindo que suas qualidades sejam ainda mais perceptíveis e cristalinas aos ouvidos dos que ainda não o conhecem, bem como continuar seduzindo os seus admiradores cativos, que o acompanham desde sempre, parece ser, se não o único, um dos seus objetivos principais.

O público conhece Moyseis através do seu jeitão malemolente de bamba do samba, jeitão que ele tão bem forjou ao longo do tempo. E sua coragem deriva daí, exatamente pela forma como concebeu seu novo álbum: apenas voz e violão – diferente do que a galera está acostumada a ouvi-lo cantar. Doze músicas, distribuídas em dez faixas do CD. Simples assim.

Esse risco, creio, vem da possibilidade de Moyseis não conseguir o reconhecimento de quem ainda não o conhece; bem como não agradar os que o amam pelo que ele fez até o lançamento deste CD. Sua busca pelo despojamento, pelo ‘menos que é mais’, sem com isso desmerecer a graça e a essência do que sempre cantou, foi uma decisão acertada? O tempo dirá.

Fato inconteste é que Moyseis Marques é um grande intérprete. Estou convicto de que apenas aos diferençados é dado o direito de ousar. Por mais loucos que sejam os seus atrevimentos, o haver artístico será sempre maior do que as possíveis decepções.

Gravado na Califórnia (EUA), o CD é muito bem mixado, principalmente a voz, cujos graves e médios mostram que continua calorosa, e o seu correto violão, que soa redondo, cheio, ambos preenchendo inteiramente o som ouvido.

O repertório é certeiro, tanto pela qualidade quanto pela diversidade. Desde Bob Marley (“Is This Love”) e Ray Noble (“The Very Thought of You”), ambas cantadas em inglês, até Jards Macalé e Waly Salomão (“Anjo Exterminado”) e João Nogueira e Paulo César Pinheiro (“Minha Esquina”). E, apenas do poeta Paulinho Pinheiro, outro bom samba, “Nomes de Favela”.

O Moyseis compositor está em cinco canções: “Alma de Lia” (com Marcello Gonçalves), que abre o CD e impressiona pelo deslumbre da voz afinada de Moyseis; “Amor de Sol Nascente” (com Moacyr Luz), uma bela canção; “O Ciclo da Rosa”, linda valsa composta com Vidal Assis, que, além do violão de Moyseis, traz um sete cordas tocado pelo americano Brian Moran; “De Lupa na Lapa” (com Mauro Aguiar), um samba acelerado, misturado a outras levadas, que conta com a participação de outro americano, o percussionista Brian Rice.

Casual Solo é um trabalho de fôlego que só engrandece Moyseis Marques. Afinal, a missão dos grandes é dar a cara a tapa; reinventar o estabelecido; sentir um friozinho na barriga quanto à aceitação ou não dos seus atrevimentos; ser espelho dos que vêm atrás e têm o artista como um farol. Boa sorte, Moyseis.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4