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O baile da Criôla


Numa salada musical com ingredientes do samba de gafieira, carimbó, baião, rumba, bolero e merengue, o som dançante da Criôla deve ser entendido, hoje, como “afrolatino” – e é assim que seus instrumentistas se veem e se identificam.

O grande trunfo do álbum, sem dúvida, são os arranjos de Humberto Araújo. Centrados que estão na ótima utilização de um naipe de saxes, flautas, trompetes, flugelhorns, clarinete, clarone e trombones, o balanço resultante é contagiante. Para aumentar ainda mais a pulsação rítmica, piano, guitarra, violão, contrabaixo, percussão e bateria têm uma pegada que faz da Criôla uma inspirada orquestra de baile.

Das doze músicas gravadas, Humberto Araújo assina oito, sendo uma apenas dele, duas em parceria com João Cavalcanti, duas com Cláudio Jorge, duas com Paulo César Pinheiro e uma com Nei Lopes; além de músicas de Cleide, Padeirinho da Mangueira e Jorge Pessanha, Wagner Dias e Márcio Resende e Pixinguinha e João de Barro.

Tudo começa com a faixa que dá título ao disco, “Subúrbio Bossanova” (Humberto Araújo e João Cavalcanti). O naipe de sopros ataca firme, o ritmo sente a pressão e trata de por ainda mais lenha na fogueira. O baile começa.

Cantando “Onde o Samba Nasceu”, a malemolência da voz de Wilson das Neves se agiganta ainda mais, graças a uma cozinha que não deixa ninguém ficar quieto e aos sopros, somados a bateria, piano e baixo.

João Donato e seu piano participam de “Vacilou” (Araújo e Nei Lopes), enquanto Luiz Melodia arrasa em “Carinhoso” (Pixinguinha e João de Barro) e Verônica Sabino interpreta respeitosa e saborosamente o belo samba “Favela” (Padeirinho da Mangueira e Jorge Pessanha). Ótimos momentos dentre inúmeros outros de igual boniteza.

Com exceção de “Onde o Samba Nasceu” (Humberto Araújo e Cláudio Jorge), quando Humberto divide o solo vocal com Wilson das Neves; de “Favela”, cantada por Verônica Sabino; de “Temporal, Atemporal”, cantada por João Cavalcanti; e de “Carinhoso”, interpretado por Luiz Melodia, o crooner oficial da Orquestra Criôla é o próprio Humberto Araújo, que defende os versos com a galhardia de um grande músico, o que ele é de fato.

Seja no sax ou na flauta, Araújo está presente em todas as faixas. Nas demais, graças à sua inventividade como arranjador, o som é de uma riqueza ímpar, e a afrolatinidade soa redonda, bailante, irresistível.

 A Orquestra Criôla ecoa boa música, competência, simpatia, irreverência, alegria solar, ginga, gíria, corpos exalando sensualidade, bom humor, alto astral... Enfim, é impossível ouvir o ótimo Subúrbio Bossanova sem enxergar nele a mais perfeita tradução musical do espírito carioca de ser.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4