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O CD de Marcos Alves, grande violonista, compositor e arranjador


Como já notou quem conferiu sua perfomance no Maogani, Marcos tem uma pegada só dele. A sonoridade de seu instrumento se amolda tanto ao som dos outros violões quanto deles se destaca por seu predicado incomum de encorpar as notas, dando-lhes sabor e suingue bem brasileiros. Seus dedos viajam pelas cordas sem se perder e menos ainda se trair no desperdício de firulas supérfluas. O compositor e arranjador Marcos Alves faz jus a tudo o que o violonista já é. Ao ouvir Pra Começo de Conversa comprovamos essa equivalência.O repertório selecionado por Marcos Alves apresenta catorze faixas, treze só dele e uma em parceria com Simone Guimarães (“Estrada de Cantos e Cirandas”). São sambas, choros, canções e uma suíte com cinco movimentos.Para realizar a gravação, grandes músicos foram para o estúdio: Joana Queiroz (clarinete), Sammy Fuks (flauta), Carlos Chaves (cavaquinho), Bruno Aguilar (baixo) e Ajurinã Zwarg (percussão). Além destes, também disseram presente os grandes Leandro Braga (piano em “Três de Ouros”), Lula Galvão (guitarra em “Estradas de Cantos e Cirandas”) e Marcio Mallard (cello em “Além do Coração”) – interpretações para lá de especiais.Compositor de grandes recursos harmônicos e melódicos, Marcos Alves faz música como se quisesse que também a enxergassem. Consegue. Esta qualidade se revela nítida nos movimentos da “Suíte 13 de Maio”. A flauta, logo no primeiro e lento movimento (“Canto de Ajuda”) nos permite “ver” o sentimento do compositor. “Áurea”, o segundo movimento, tem no clarinete o mesmo deflagrador de imagem; já o terceiro, “Galho de Arruda”, mais ritmado que os anteriores, tendo o cavaquinho, o baixo, o violão e a percussão, só faz confirmar tal impressão que se mantém em “Luz da Razão” e “Desencanto”, quarto e quinto movimentos. Outro lindo momento é quando apenas Marcos e Joana se juntam para tocar “A Todos os Reinados”. O violão começa com notas dedilhadas e alguns arpejos, até vir a seu encontro o sopro mágico de Joana. A melodia, a cargo do clarinete, é sutil; a harmonia, criada por Marcos para o violão, surpreende continuadamente. Nos arranjos – enriquecidos que são pela pluralidade sonora que nasce da concepção musical de Marcos Alves –, solos e improvisos são sempre divididos, assim, a cada instrumento é dada a oportunidade de brilhar. E Marcos Alves teve ainda a generosa sacada de tocar sozinho apenas duas faixas.Pra Começo de Conversa é a perfeita sincronia entre som e imagem que vem do talento de seu criador. Cabe-nos apreciar a obra deste grande músico que faz de sua arte expressão maior da musicalidade dos que amam a boa música instrumental brasileira. Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4