Loading...

O instrumentista que ama a música


Assim tem início Mané Silveira Quinteto (Kalamata), o quinto CD deste trabalhador da música instrumental brasileira. Matar um leão por dia, dando nó em pingo d'água: esta é a missão de Mané Silveira, e não só dele, pois este é também, na verdade, o encargo de todos os músicos instrumentistas brasileiros.E Mané não foge à luta. Vindo de uma família cujo lado materno respirava música, este saxofonista, compositor e arranjador paulistano faz do sopro a sua vida, faz da música sua paixão. Feito o conquistador romântico que corteja com mil mesuras a sua amada, Silveira trata seus instrumentos com afeto, respeito, ternura. Como quem se ajoelha aos pés da amante, tendo nas mãos uma flor, assim é o craque diante da música que o seduz.   De autoria de Mané Silveira, com arranjo dele, "Lumem", faixa cinco do álbum, é um tema lento, quase romântico. O sax tenor brilha macio, mas incisivo, carregando no sopro o ardor de um apaixonado. Quando já se imagina que caberá ao tenor cumprir a tarefa de começar e concluir a música, eis que chega o piano. Vem tão doce quanto o sax. Juntos, criam atmosfera de ampla e profunda beleza.  A flauta, em companhia do violoncelo de Adriana Holtz, sola uma das mais lindas faixas do CD, a valsa "Despretensiosa" (Mané Silveira). Mas ao assumir o solo da melodia, tendo o piano a acompanhá-los, Adriana faz com que "visualizemos" casais em trajes de época, rodopiando em salões engalanados. A flauta, aos poucos, faz breves e sutis intervenções - mas, não se contendo, vai se achegando ao violoncelo. Juntos deliram. O sopro é cativante; os dedos de Adriana, mágicos. Meu Deus! Findo o disco, me dou conta de que passei por momentos de intensa fascinação. Sem medo de errar, concluo: Mané Silveira Quinteto é o melhor álbum instrumental de 2010, ano que logo será passado.Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4