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O melhor de 2017 para começar 2018


Ferrugem (Record, R$ 34,90), de Marcelo Moutinho, traz personagens que encontramos no dia a dia de qualquer metrópole conduzem os contos de. São passageiros que dividem bancos de ônibus todos os dias, o artista anônimo que imita o cantor mais famoso do país, no cabaré obscuro, nos intervalos de shows de transformistas, a romântica que estrutura sua vida a partir de uma ilusão, entre tantos outros. A solidão das almas cercadas pelas multidões da cidade imensa é o traço comum nos delicados relatos, quase crônicas realistas da urbanidade contemporânea.

Dicas da Imensidão (Rocco, R$ 39,50), de Margaret Atwood,  reúne contos da autora canadense publicados em jornais e revistas nos anos 1980. Com ampla maioria de protagonistas femininas, as mulheres de Atwood são competidoras ferozes no mundo corporativo e suportam situações que os valores éticos da juventude rejeitariam firmemente, enquanto convivem com solidão, envelhecimento, maturidade, paixões e os paradoxos da vida real.  

A Cápsula (Imã Editorial, R$ 36), de Regina Zappa, mostra situações que empurramos para baixo do tapete, por temor ou prudência, expressas nas recordações de um homem no leito de morte. A melancolia de cada história curta ajuda a compor um belo mosaico da brasilidade sofrida, que festeja uma rotina de monotonias guardadas no fundo do peito.

Um amor incômodo (Intrínseca, R$ 34,90), da italiana Elena Ferrante, é calcado nas recordações sobre uma infância triste de uma mulher despertada pela morte da mãe. Violência doméstica, amores extraconjugais e uma tremenda dificuldade de comunicação fortalecem o cenário de arrebatamentos ilusórios e da infelicidade característicos de uma das escritoras mais discutidas da atualidade.

Última Hora (Record, R$ 44,90), de José Almeida Júnior, tem a falta de caráter é a mola propulsora de uma trama que mistura personagens reais com fictícios para falar de um tema atualíssimo: a manipulação da informação por motivos políticos. De um lado está o ex-ditador Getulio Vargas, que financia a criação do jornal Ultima Hora, de Samuel Wainer, para ser a voz de apoio ao governo, violentamente criticado por toda a imprensa. Do outro, o jornalista e deputado Carlos Lacerda, o vilão deste thriller, à frente da oposição a Vargas, mas apenas uma das figuras capazes de qualquer torpeza para satisfazer seus interesses. Vencedor do Prêmio Sesc de Literatura 2017 na categoria romance.

Vinte Anos Depois (Zahar, R$ 129,90), de Alexandre Dumas, conta o reencontro de D’Artagnan, Athos, Porthos e Aramis, duas décadas depois das aventuras de  Os Três Mosqueteiros, com protagonistas mais maduros e prontos para salvar a França ou quem necessitar da ajuda dos intrépidos cavalheiros. O belíssimo volume foi um dos mais aguardados  da Coleção Clássicos Zahar, que continua brindando os leitores com histórias universais em edições ilustradas e comentadas.

Nas águas desta baía há muito tempo (Record, R$ 42,90), de Nei Lopes, reúne 18 “contos da Guanabara”, com personagens reais e ficcionais em situações imaginárias, durante a Revolta da Armada (1893–1894), quando os navios de guerra apontaram canhões para a cidade do Rio de Janeiro, em protesto contra o governo republicano.Na mistura entre ficção e realidade, personalidades outras épocas, como o pirata René Du GuayTroin e a vedete Luz Del Fuego, surgem nos contos ao lado de quem presenciou os acontecimentos, entre eles o escritor Lima Barreto.

Santos Fortes (Rocco, RS 29,90) dos historiadores Leandro Karnal e Luiz Estevam de O. Fernandes, fala da comovente devoção brasileira a intermediários que ajudem o fiel a obter graças concedidas por Deus. No país em que os nomes mais corriqueiros nos registros de nascimento são Maria e José, não faltam devotos cumprindo promessas para quem não foi consagrado pela Igreja Católica, como a Escrava Anastácia e o Padre Cícero.

Sandro Moreyra – Um autor à procura de um personagem (Gryphus, R$ 39,90), do jornalista Paulo Cezar Guimarães, levanta passagens divertidas da vida de um carioca nascido numa época em que ser bon vivant não tinha a conotação pejorativa da atualidade. Filho do poeta Alvaro Moreyra e da jornalista Eugênia, Sandro especializou-se em cobertura esportiva, tornando-se amigo de craques, entre eles, Garrincha. Bronzeadíssimo, desprezava solenemente os filtros solares em suas idas diárias à praia, equilibrando alegremente o trabalho incessante como jornalista com o culto ao bom-humor. Leitura indicada até para os mais empedernidos adversários do Botafogo, time pelo qual Sandro era apaixonado.

Esta coluna entra em recesso junto até as vésperas do Tríduo Momesco. Um grande 2018 com boas leituras!!!!