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O menino e as meninas


Agenciada por um colega da escola pública em que estudava e com quem dividia o michê de R$ 10,00, a garotinha se prostituía. Enquanto isto, a educadora tentava ajudar meninos e meninas que nem aquela, criando uma instituição chamada Casa do Zezinho, que ela freqüentava e um dia ouviu de Dagmar o seguinte: “Já que você quer continuar nesta vida, por que ao invés de se vender tão barato não se prepara para ser puta em Brasília? ”A garota se interessou e a educadora foi em frente: “Vai ganhar muito dinheiro. Mas para isto vai ter que estudar, cuidar do corpo, da saúde, aprender boas maneiras, bons hábitos”. A menina se interessou e parou de se prostituir na favela, mas passou a vender drogas. A nova lição da “anja” da guarda: “Quer vender drogas? Então se prepare para ser a chefe do negócio. Basta estudar muito, aprender contabilidade para cuidar das finanças e inglês para se defender nas relações comerciais internacionais”. E assim, animada com o futuro, a menina estudou muito. Tanto, que descobriu o próprio destino; que não passou nem pela prostituição nem pelas drogas. Formou-se em Odontologia, pela USP, e hoje é dentista em Sampa. A história original está no livro A pedagogia do cuidado, do educador Celso Antunes. A crônica do Gilberto chama-se Como Brasília perdeu uma prostituta. Aproveito o astral natalino que ronda os dezembros, para pedir ao menino homenageado nos presépios que proteja as meninas que nem a dessa história. E elas são muitas, mais do que imaginamos.