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O mosaico musical de um ótimo cantor


Com voz delicada, mas intensa, valendo-se de um timbre de bela agudeza, ele canta com refinada elegância. Sua afinação vai às notas como a flecha à mosca. Ouvi-lo é como um louvor à competência dos cantores brasileiros no exercício de seu ofício. Tiago Costa é o responsável pelos ótimos arranjos: o conhecido samba “Pandeiro É Meu Nome” (Francisco Ferreira da Silva e Venâncio) começa com violão (Michi Ruzitschka) e piano (do próprio Tiago). A seguir vêm a bateria (Serginho Machado) e um bom naipe de sopros: Daniel D’Alcântara (flugel), Maurício de Souza (sax e flauta) e Paulo Malheiros (trombone). É o indício de que mais coisa boa ainda virá. Segue outro ótimo samba, “Cantando no Toró” (Francisco Buarque). O piano de Tiago faz duo com o irrepreensível violão de Chico Pinheiro, e o minimalismo do som acentua a melodia.E vêm “Dúvida Cruel”, de Francisco José Itamar Assunção e Francisco César Gonçalves (Chico César). Piano e baixo acústico (Sylvinho Mazzucca) dividem frases pontuadas pela bateria de Serginho Machado e pela percussão de Felipe Roseno, e acentuam versos de sentido incomum.O piano e o violão começam e o tamborim logo se junta aos dois para pulsar “Doce Sereia” (apesar de pouco conhecido, é um grande samba de João Bosco e de seu filho, Francisco Bosco). A cozinha se soma ao clarinete, que brinca com as notas em puro divertimento. Outros dois grandes momentos de Mateus são a clássica e bela valsa “Eu Sonhei Que Tu Estavas Tão Linda” (Francisco de Queirós Mattoso e Lamartine Babo) e a fascinante “Morro Dois Irmãos” (Chico Buarque). Ao cantá-las, o que Mateus faz com a voz é de arrepiar. A valsa tem inspirado arranjo de cordas e piano, a delicadeza impera e a suavidade da percussão a sobressai. Na canção de Chico, o piano, a bateria e o piano conduzem linha melódica de difícil interpretação, à qual Mateus dá o melhor de si e brilha.A parceria de João Nogueira e Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho (Chico Anysio) em “Nicanor Belas Artes” é um achado. Com participação especial de Chico César cantando com Sartori, a letra ganha ainda mais graça. Para tanto contribui o arranjo que sublinha as marcações rítmicas com desenhos de clarinete (Alexandre Ribeiro) e de sax barítono (Teco Cardoso), apoiadas pela competente cozinha. Para encerrar, Chico Pinheiro e Chico César trazem “Tempestade”. O som raro da flauta baixo (Teco Cardoso) cria a atmosfera, o piano a ela se integra e molda o ambiente ao qual a bateria e a percussão agregam a criatividade que a música carece para ser diferenciada. Que ótimo cantor é Mateus Sartori, que belo é o seu Franciscos! Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4