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O mundo musical de Mauricio Pereira


Saído da dupla Os Mulheres Negras, que integrou com André Abujamra nos anos 1980, Mauricio Pereira não perde a verve, muito menos o estilo que continua firme e forte, cantando sua imaginação irreverente e sua musicalidade diversificada.

E ele agora lança Pra Onde Que Eu Tava Indo (independente), sexto CD que traz algumas composições só dele e outras com parceiros diversos, além de cantar músicas de outros autores.

Batucando numa singela latinha de manteiga com Tonho Penhasco (que com ele divide a direção musical do disco) e quase a capella, Mauricio abre o CD com “Notícia” (Nelson Cavaquinho, Alcides Caminha e Nourival Bahia).

“Pra Onde Que Eu Tava Indo” (Mauricio Pereira e Chico Lobo) é puro roquenrrol. Com estrutura de “partido alto”, a guitarra de Tonho Penhasco, a bateria de Gabriel Basile e o baixo de Henrique Alves arrepiam a peruca. O coro come no refrão e amacia nos versos.

“Três Homens, Três Celulares” (Maurico Pereira), com sua levada oriental, tem versos que exprimem a criatividade de Mauricio: Três homens, três celulares longe dos lares/ Um é turco e se chama Fares/ Outro joga truco online com malabares/ e o terceiro – obviamente – curte férias escolares.

Em “Andas Seca” (MP e Luis Felipe Gama), a letra tem momentos melancólicos, avultados pelo som do piano de Tania Murakami. Aqui se tem um lance diferente do da música anterior: esta é intensa, dolorida.

“Criancice” (MP), levado pelo violão de aço de Tonho Penhasco, conta com um refrão delicioso: Criancice criançasse/ Saci plantasse alface/ Quiçá sassaricasse/ Até asa criasse.

Com sua voz singular, acompanhado pelo piano de Lincoln Antônio, Mauricio canta a ardorosa “Não Adianta Segurar o Choro” (MP e Lincoln Antônio).

Em “Medrosa” (Lincoln Antônio e Stela do Patrocínio), a pegada instrumental roqueira está de volta, enquanto Mauricio canta: Eu não sei fazer justiça/ Não sei como faz justiça/ Eu não tenho coragem de enfrentar nada (...).

“Deixa Eu Te Dizer” (MP e Tonho Penhasco) é ingênua como o sono, espontânea como o sonho.

“Aeroplanos”, música “viajante” de Jorge Mautner e Rodolfo Grani Jr., tem interpretação à sua altura, tanto pelo cantar de Mauricio quanto pelo trompete de Cláudio Faria.

Respeitosamente, Mauricio interpreta “Ciao, Amore, Ciao” (Luigi Tenco), pop italiano que foi sucesso nos anos 1960. Fechou a tampa.

Ouvindo Pra Onde Que Eu Tava Indo, é impossível não se surpreender com o emaranhado da criação. As faixas do CD vêm e sacodem, espantam, incomodam, atiçam. Diante de achados que se sucedem em avalanche de “estranhezas” poéticas, melódicas, harmônicas, instrumentais e vocais, resta deixar que tudo surja, que tudo cubra os ouvidos e de lá vá à alma de quem ama o novo, quando o novo lhe aparece.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4