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O nordeste musical de Cacau Brasil


A seleção do repertório prioriza canções dançantes com refrões de fácil assimilação e atinge o objetivo. Animadas pela própria natureza, as primeiras cinco faixas são de se ouvir sacudindo o esqueleto, um sorriso no meio da cara. Elas lá estão como que para revelar um tantão da musicalidade nordestina. E a Cacau este mérito, perceptível antes mesmo de o CD rolar todas as 11 faixas.Como não poderia deixar de ser, as músicas têm como base uma sólida cozinha, baseada num bom contrabaixista (Mauricio Oliveira), num baterista eficaz (Cássio Cunha), numa precisa e suingada percussão (Firmino) e na formidável capacidade que tem Paulo Rafael de tirar sons dos violões e da guitarra, tornando-os a cara da música da qual participa.Para ajudar Cacau a ser um intérprete nordestino do Brasil inteiro, lá estão também o acordeom de Renno Saraiva, os teclados de Lomiranda, os trombones de Nilsinho, o clarinete e as flautas de Marcelo Bernardes e também as boas vozes de Adriana BB, Andréa Dutra e Nana Tribuzy. Ah, em quatro faixas tem também o cello de Lui Coimbra. Só que a mixagem não permite ao ouvinte perceber nelas, com a clareza necessária, o fino toque que este grande músico dá ao seu instrumento. Pena. E vem “Apito do Trem” (Edwin de Olinda). Chiii, pronto, começou o baile. A percussão acende a luz e convoca o povo para dançar. Cacau solta a voz. Um bom solo de trombone antecede a volta da percussão tirada da pele dos tambores. Está começando a festa.Na seqüência tem “Imaginário”, a primeira música de Cacau a ser apresentada no CD, uma parceria com o baixista Mauricio Oliveira. Nela, Paulo Rafael dá um show – seu violão de aço é mágico. E também o acordeom de Renno Saraiva. Um bom momento musical.“Me Domina” (Mauricio Oliveira e Ronaldo Fialho) segue na mesma pisada. A brejeirice da melodia é acentuada pelo naipe de trombones e clarinete, principalmente quando do ótimo solo deste último. Mas o CD pega mesmo no breu é com “Flor no Cabelo”, de Cacau e Geraldo Amaral. Nela, o trio feminino demonstra a força que faz do canto em conjunto uma sólida base para o solista brilhar. Aliás, o moço demonstra que tem boa voz para interpretar o repertório que escolheu como marca registrada. Fica claro, entretanto, que muito chão há para ser percorrido até amaciar as divisões rítmicas, tornando-as ainda mais leves.Bom compositor, Cacau, em parceria com Paulo Rafael, compôs “Misterioso Tempo do Desejo”, uma canção introspectiva, a sexta faixa do álbum. Certamente ela foi escolhida para amenizar o clima de festa frenética que vinha sendo a marca até então. Como que para nos deixar respirar um pouco, a vocalização de Adriana BB, mais uma vez, cria um clima intimista que nos permite imaginar que a festa dançante logo, logo vai recomeçar.E, de fato, com “Sonhei de Cara”, música de Alceu Valença em parceria com o percussionista Don Tronxo e com seu primo Rubem Valença, a pisada nordestina volta a levantar poeira. E a participação de mestre Alceu cantando, é, como sempre, profundamente instigante.A seguir, nova pausa para amenizar o ritmo intenso. “Santa Clareada” (Dino Gaudêncio) é cantiga suave, amorosamente cantada por Cacau. Mais uma vez, o violão de aço de Paulo Rafael se faz bem presente ao lado da percussão delicada de Firmino.E vem “A Notícia”, reggae delicioso, parceria do paulistano Celso Viáfora com o baiano Vicente Barreto. A música tem um belo e poderoso refrão, o que faz dela um sucesso potencial de Cacau Brasil. O moço tem carisma. Por isso e por tudo, está à sua frente uma bela e promissora carreira. Para tanto, é de lei manter-se fiel à música nordestina que lhe corre pelas veias e permitir que o fraseado das músicas lhe venha malemolente à garganta.Aquiles Rique Reis, músico, vocalista do MPB4