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O novembro que é julho


Pandemia e clima embolaram os calendários em todos os aspectos da vida, incluindo eventos culturais e esportivos. A Covid trouxe para o meio do mês a Festa Literária de Paraty (Flip), tradicionalmente realizada no início do segundo semestre. A temperatura elevadíssima do Catar nos meses de junho e julho (a mais alta registrada foi de 50,4 graus Celsius, em 2010), transferiu a Copa do Mundo para novembro/dezembro. Tudo isso imediatamente depois de uma eleição majoritária disputadíssima e com manifestações de descontentamento com o resultado atrapalhando a rotina de muitos brasileiros, com estradas fechadas.


Para piorar o estado de espírito de quem vive em Pindorama, novembro levou os astros Gal Costa e Erasmo Carlos, representantes de correntes musicais diferentes, que, no entanto, interagiam com muita frequência. Para a cantora, Erasmo e Roberto Carlos fizeram Meu nome é Gal, enquanto ela gravou diversos sucessos da dupla, recorda o Tremendão em suas memórias Minha fama de mau (Objetiva, R$ 40), lançadas em 2009. Passagens divertidas são relatadas pelo carioca da Tijuca, um dos carismáticos líderes da Jovem Guarda, querido por tropicalistas e estrelas da MPB, como Chico Buarque, que o cita na letra de sua canção Paratodos.


A Jovem Guarda dava seus últimos suspiros quando o país vivia o período mais duro da ditadura militar, nos anos 1970, época na qual Flávia Hartman ambienta seu livro de estreia O General estava nu (Penalux, R$ 45,90). Aos dez anos, Lila vai morar com uma família no Edifício Seabra, endereço tradicional e elegante na Praia do Flamengo. Aos poucos, Lila deixa de ser apenas a cuidadora de uma das crianças para se integrar a todos os moradores, empregados e patrões, que se distanciam o quanto podem do patriarca, um general ligado a práticas ilegais de tortura e morte de presos políticos. Ao longo de dez anos, a família se recupera de traumas e se reconstrói, escapando do domínio do homem que subjuga a todos com seu poder. Embora fictícia, a trama mostra locais que Flávia conheceu e viveu, entre eles o Seabra, retratando com fidelidade costumes daquela década.


Sem luta não se vive (Gryphus, R$ 57,90), quarto romance de Almir Chiaroni, é um thriller carioca contemporâneo, que aborda a banalidade da violência urbana no Rio de Janeiro. Herculano, um motorista particular torna-se o anjo da guarda de uma família rica, depois de recuperar os pertences de Patrícia, furtados por um ladrão. Ex-praticante de artes marciais, Herculano é contratado pelo pai de Patrícia, cujo marido está envolvido na agressão a uma prostituta – a cunhada do motorista. Quando policiais corruptos se põem no caminho do inspetor que está à frente das investigações, ele passa a contar com a ajuda de Herculano para desbaratar a quadrilha que envolve bandidos comuns e milicianos.


A intromissão de curiosos velhinhos no trabalho da polícia é mais uma vez determinante no enredo da terceira aventura do Clube do Crime das Quintas Feiras. Em A bala que errou o alvo (Intrínseca, R$ 69,90), de Richard Osman, os aposentados têm que lidar com ameaças de morte e chantagem ao analisar o assassinato de uma jornalista. Com todo o tempo do mundo para se dedicarem a desvendar mistérios, o quarteto começa a reunir novos integrantes, todos já bem passados da meia-idade. Enquanto se fazem de ingênuos, eles despertam interesses amorosos e conquistam até os inimigos, que passam a participar do grupo. Lançado em 2020, o primeiro livro da série, que teve direitos comprados para adaptação cinematográfica, vendeu mais de 2 milhões de cópias.