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O sabor apimentado da voz de Pedro Miranda


Pedro canta como quem conversa, como quem joga conversa fora sentado num caixote na calçada. O samba está para ele como a cerveja está para a boemia e a alegria está para a noite curtida em papos furados, mas salvadores.O pandeiro faz parte do seu corpo. Ao tocá-lo, e bem, ele incorporou seu som e o transportou para a voz... Pois é, Pedro Miranda canta como quem toca. Canta e toca com a magia do sambista que fraseia como poucos; daí, neste seu segundo CD, ele já poder ser reverenciado como um grande intérprete.Poucos são os que têm a sua facilidade para tornar delicioso um verso cheio de segundas intenções, bem como poucos têm um timbre vocal que lhes permita voar suave do grave para o agudo, como Pedro bem demonstra ter em seu Pimenteira (independente). Ele, que brilha na noite da Lapa e integra os grupos Semente (que acompanha a cantora Teresa Cristina) e Samba de Fato (que, com Cristina Buarque, prestou homenagem à obra do sambista Mauro Duarte), tem na voz uma graça maliciosa, provocante. E Pedro abusa, faz dela gato e sapato. Trata-a sem cerimônia, sem lhe dar chance de se rebelar contra seus mais doidos delírios. Brinca com a voz como o menino faz embaixadinhas com a bola de meia ou como a menina dá banho na boneca de pano e a coloca ao sol para quarar o cabelo. Com produção competente do violonista Luis Filipe Lima, Pimenteira tem um repertório – tão impecável quanto nunca gravado – embalado em arranjos sob medida para o samba brilhar, com Pedro. Oito deles são do próprio Luis Filipe, dois são do saxofonista e flautista Eduardo Neves, um do violonista Marcello Gonçalves, outro do bandolinista Afonso Machado, todos criados para sambas garimpados com a ajuda de Cristina Buarque e de Paulão 7 Cordas.Priorizando metais e percussão e com extremo bom gosto, os arranjadores deram mil nuances instrumentais a sambas de origens diversas: do carioca e sincopado à pimenteira do recôncavo; do samba de amor e de gafieira aos cheios de gírias e de referência a bairros do subúrbio do Rio; do amor à ilha de Paquetá ao crítico de costumes. Sambas levados no toque requintado de instrumentistas feitos para a coisa, e compostos pelos bambas Silvio da Silva, Roque Ferreira, Mauricio Carrilho e Paulo César Pinheiro, Eduardo Neves e Alfredo Del Penho, Rubinho Jacobina, Wilson das Neves e Trambique, Elton Medeiros e Afonso Machado, Nei Lopes, Moyseis Marques, Pedro Amorim, Nelson Cavaquinho e Alcides Dias Lopes, Edu Krieger.Tudo na medida para o desfile impávido de um grande intérprete, um jovem artista cujo samba revela a sua cara e o seu jeito de ser um grande sambista.Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4