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O som brasileiro de Geraldo Azevedo


CD independente, O Brasil Existe Em Mim traz a público um Geraldo Azevedo amadurecido, compositor mais inspirado do que nunca. Suas harmonias continuam a levar a melodia a caminhos insuspeitados. O violão é seu norte. Mesmo sua voz, por vezes exageradamente gutural quando em notas agudas, tornou-se branda, revelando um melhor intérprete de suas criaçõesCercado de bons parceiros, no novo álbum Geraldo tem quatro músicas feitas com Geraldo Amaral; duas com Capinan; duas com Fausto Nilo; uma com Carlos Fernando; uma com Paulinho Pedra Azul; outra com Zama e uma com Torquato Neto (esquecida, encontrada em seus guardados, mas recuperada para sorte de seus ouvintes), além de uma que é só de Kalifa.A produção do disco ficou a cargo da competência do guitarrista Paulo Rafael, que cuidou para que a mixagem não perdesse um detalhe sequer daquilo que foi criado pelo seleto grupo de instrumentistas de O Brasil Existe Em Mim. De Geraldo Azevedo, autor de sucessos populares inesquecíveis, espera-se sempre um frevo rasgado, bom de dançar. Pois Geraldinho não decepciona esses aficionados. A eles é dada, logo de cara, “O Que Me Faz Cantar”, parceria com Geraldo Amaral. Com refrão poderoso e um belo arranjo para cello tocado João Carlos, ela tem a cara de seus autores e é música pronta para animar platéias e tocar nas rádios que programam música brasileira – sim, elas existem sim, senhor! E tem “São João Barroco” (com Carlos Fernando), que conta com Elba Ramalho e faz da sanfona sua marca registrada nordestina. Tem também Alceu Valença em “Já Que o Som Não Acabou” (com Geraldo Amaral), emocionada homenagem a Jackson do Pandeiro, embalada a belo dueto de sanfona e flauta. Com a filha Clarisse (de voz suave), Geraldo interpreta, cantando em terças, “Ver de Novo” (com Zama), onde pontifica a guitarra de Paulinho Rafael.Mas há um Geraldo Azevedo mais romântico, mais introspectivo, mais lento ritmicamente, que entusiasma tanto quanto nas músicas mais balançadas. Destaques para “O Paraíso Agora” (com Fausto Nilo) – mais uma vez a guitarra se revela poderosa –, e para “Em Sonho” (com Paulinho Pedra Azul), em que trombone e guitarra têm diálogos musicais eficientes e solos refinados. Mas é com “O Nome do Mistério”, parceria com Torquato Neto, na qual Geraldo “descobriu” versos densos, cortantes, emocionantes guardados num fundo de gaveta, que o CD demonstra que veio para firmar presença. Mas o que faz Geraldo Azevedo cantar? O que tira dele um choro baixinho, feito o da criança que tem sede de futuro? Ora, ele está certo de que o paraíso está aqui ao lado e agora mesmo nos abre as portas que cremos nunca iríamos ver escancaradas; ele vê na imagem barroca de São João em festas e crendices iluminadas por um farol que irradia a luz da lua guerreira de São Jorge; sonha com um som que nunca se cale, que nunca se vá, que nunca o deixe só com seus medos e desatinos; recusa-se a contar o nome de um mistério que guardou “silencifrado” numa gaveta da alma; canta e vive cercado de filhos e filhas, águas de seu oceano, que o tornam uma ilha de onde partem cantorias nordestinas e visões integrais da vida brasileira; ele não teme rever o futuro que havia traçado em linhas tortas; vê na cor brilhante, ou mesmo na cor opaca, a serenidade de quem adquiriu essa sabedoria que aponta para em tudo haver um deus... Seu Deus, nosso Deus, meu Deus!De momentos que vão da festa à reflexão se faz O Brasil Existe Em Mim.Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4 e autor de O Gogó de Aquiles, ed. A Girafa. Seus textos são publicados semanalmente no Acontece na  no Diário do Comércio (ACSP), Meio Norte (Teresina), A Gazeta (Cuiabá), Jornal da Cidade (Poços de Caldas) e Brazilian Voice (EUA). No rádio, sempre às segundas-feiras, das 15h às 16h, "O Gogo de Aquiles" vai muito bem, obrigado. Você poderá escutá-lo (no Rio de Janeiro) sintonizando diretamente na Rádio Roquete Pinto, ou (fora do Rio) na internet: www.fm94.rj.gov.br .