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O som impecável da música e do violão de Vicente Barreto


Vicente é sabedor de seu destino de cantador e de sua sina de ser a alma do violão, seu principal companheiro. Mesmo tendo como parceiros os melhores poetas, que repercutem em versos as melodias que ele cria, é o violão quem melhor lhe dita o espírito de brasileiro a viver daquilo que lhe vem das idéias musicais.Certa vez eu escrevi que Vicente Barreto tem em sua mão direita uma roseira que dá flor o ano inteiro. Ainda mais agora, quando outro Barreto, Rafael, reúne suas mãos às do pai para juntos se fazerem jardineiros da arte de cultivar o violão. Hoje, mais do que nunca, Vicente está aí para fazer aquilo para o qual nasceu, e disso não foge da raia: tocar violão.Junto com Rafa e também com Paulo Calazans (piano, programações e arranjos) e Marco Bosco (percussão), Vicente gravou um disco de compositor. Para tanto, contou com ótimas letras – quatro delas são de Zeh Rocha; três de Celso Viáfora; três de Paulo César Pinheiro; uma de Carlos Rennó e outra de Paulinho Mendonça. Seu violão continua com uma sonoridade impecável, mas o que mais chama a atenção, e isso logo se ouve, é a maturidade do compositor. Harmonizador requintado; buscador de levadas rítmicas diversificadas; melodista juntador de notas às palavras para delas ser o mais íntimo possível – este é Vicente Barreto.Álbum de múltiplas sonoridades, tocadas com uma formação instrumental enxuta e vigorosa, nele salta aos olhos a evolução artística de Vicente Barreto, que continua pop, apoiado em sua forte personalidade, sabedor do que aspira e garimpeiro de sonhos musicais. Em tudo e por tudo, Vicente é a cara do Brasil – ambos buscando crescer para se apoderarem de seus destinos e serem vastos e pródigos como merecem. Aqui está o menino baiano de Serrinha, pronto para musicar o mundo. Aqui está o moço e seu violão prontos para percorrer os atalhos. Prontos para capturar o vento que transformarão em canções a falar do prazer de viverem suas histórias ao lado de quem os amam e os compreendem. Neste novo trabalho, que vem numa bela capa, feito as dos livrinhos de literatura de cordel, Vicente canta como nunca se ouviu. Seus graves saem sonoros, bem como sonoro é o encontro de seu violão com o contrabaixo e com o violão. A percussão é tão rica como a música que embala. O piano tem o som encorpado de quem se sabe capaz de dar ao resultado final do CD um forte traço de unidade.E todos juntos fazem a música soar generosa, bela. Música que tem a força do improviso nascido do aboio do vaqueiro ou do canto da puxada de rede do pescador nordestino. Música que traz em si o sol que esquenta a cabeça do trabalhador nas construções dos arranha-céus paulistanos, que revela o dó que sente dos meninos das ruas do Brasil... Ora, música de Vicente Barreto.Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4