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O som que vem de Alagoas


Tem de ser a um só tempo o dia e a noite; o equilibrista e o domador; o palhaço e o leão; o gigolô e o jogador e, ainda assim, ver-se sempre na condição daquele que faz sem que saibam bem o que. Ou na eterna condição de ser o tanto que é, mas permanecer quase incógnito. A sina de ser eterna promessa. Talvez, ser apenas mais um rosto na multidão a caminhar pelas ruas de Maceió; uma voz guardada na garganta, um verso solto no peito, uma nota resvalando d'alma ao chão. Será? Até quando?Lá vai Mácleim. Vai dali para lá, de lá para muito além das fronteiras nordestinas. Já fez apresentações pela Europa. Cantou em festivais os mais importantes lá pelas bandas do Velho Mundo. Em suas terras alagoanas e para além dos arredores que chegam a São Paulo e até ao Rio, Mácleim busca se mostrar a toda a gente que ama a boa música.Com vários discos gravados, chegou às minhas mãos Internet Coco (lançado pelo selo suíço Soluar). Nele, ouvi um melodista de bons recursos técnicos. Suas linhas melódicas soam transparentes, como se nos fossem familiares, nos dizendo de emoções sonoras a que nos habituamos a sentir no dia-a-dia. Ouvi seus sambas. Eles têm o frescor da modernidade que experimenta e refaz caminhos já experimentados e trilhados. Ouvi seus arranjos de base. Eles ajeitam com carinho a cama aonde deitarão aqueles outros instrumentos que ali e acolá se destacam isoladamente. Ouvi seus arranjos para metais. São a força que impulsionam sua música. Ouvi suas letras. São palavras ainda um tanto frágeis para prestar serviço à melodia e ao ritmo. Ouvi suas harmonizações. São do tope daquelas criadas por gente reconhecidamente competente na matéria.Cheias de suingue, suas músicas promovem uma farta integração entre os ritmos nordestinos e aqueles batucados nas quadras das escolas de samba. Seus sambas refletem a musicalidade expressa no jazz e no maracatu. Compositor digno de freqüentar a mesma galeria de um Jorge Benjor, de um Lenine, de um Max de Castro e de um Jair Oliveira, Mácleim tem tudo para fazer o muito sucesso que estes seus companheiros de profissão já fazem. 10 faixas, quase todas só de Mácleim, compõem o CD que abre com a faixa que lhe dá título: "Internet Coco" (dele), a qual começa com um tambor em marcação e, aos poucos, o pandeiro e o triangulo (Paulinho Ditarso), as congas (Ronalso), mais a bateria (Olaf Keus) completam o naipe rítmico. E chegam os saxes (Everaldo Borges, também criador do arranjo para os metais) e o trompete (Alcantara). Mácleim toca violão e canta com voz meio sonsa, como se não quisesse nada, querendo tudo. Diga aí... Além de sambas bem balançados, Mácleim compôs o blues "Atriz", nele, a guitarra (Norberto Vinhas) brilha no início e o trombone (Yves Massy) no intermezzo. E também "Baque do Som", maracatu com sua inconfundível marcação de caixa, que abre com a inserção de uma marujada e fecha com um fandango. "Nigromantes" (Mácleim) tem boa levada na viola de 12 e diz: "De uma forma encantada/ Loucamente apaixonada/ D. Quixote vive em mim". Nesta grande música, como em outras, tem efeitos bem sacados e ótimos e bem tocados sopros.Feito chuva de vento lavando paredes impregnadas de rabiscos desconexos, Internet Coco de Mácleim traz argumentos sólidos para convencer àqueles que têm dúvida se existe boa música fora de São Paulo e do Rio e além da que se vê e ouve nas televisões e nas rádios. Ora, existem centenas de Mácleims espalhados Brasil afora e adentro, pena quem nem todos consigam ouvi-los.Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4 e autor de O Gogó de Aquiles, ed. A Girafa. Seus textos são publicados semanalmente no Acontece na  no Diário do Comércio (ACSP), Meio Norte (Teresina), A Gazeta (Cuiabá), Jornal da Cidade (Poços de Caldas) e Brazilian Voice (EUA). No rádio, sempre às segundas-feiras, das 15h às 16h, "O Gogo de Aquiles" vai muito bem, obrigado. Você poderá escutá-lo (no Rio de Janeiro) sintonizando diretamente na Rádio Roquete Pinto, ou (fora do Rio) na internet: www.fm94.rj.gov.br .