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Obra-prima revisitada


Festival da TV Excelsior, 1965, em São Paulo. Elis Regina canta "Arrastão" e ganha o primeiro lugar. Festival da TV Record, 1967, São Paulo. Edu canta "Ponteio", com Marília Medalha, o grupo instrumental Quarteto Novo e o grupo vocal Momento Quatro. Ganha o primeiro lugar. Nascia ali mais uma estrela na constelação de talentos surgida nos anos 1960. Foi quando o produtor Aloysio de Oliveira, dono da gravadora Elenco, uma fonte inesgotável de lançamentos de grandes nomes da época, certo de que ninguém melhor do que Edu para cantar suas próprias músicas, contratou-o para gravar o primeiro disco. O LP tinha como título A música de Edu Lobo por Edu Lobo. Para acompanhá-lo, foi convidado o Tamba Trio, integrado pelo pianista Luizinho Eça, pelo contrabaixista e flautista Bebeto Castilho, e pelo baterista Rubens Ohana, ele que havia substituído a Hélcio Milito.Quem àquela época teve a oportunidade de ouvir este primoroso primeiro trabalho de Edu deparou-se com um jovem que por tudo chamava a atenção. Principalmente por seu inequívoco talento para formular harmonias inteiramente fora dos padrões musicais daquele momento de efervescência política. Período que, como reação à ditadura, deflagrou nos compositores a disposição de usarem seu talento para criarem uma avalanche daquilo que se convencionou chamar "música de protesto".Edu Lobo não fugiu à regra, e seu LP é o reflexo disso. Lá estavam obras-primas do gênero: "Borandá" (Edu Lobo); "Resolução" (Edu Lobo e Lula Freire); "As Mesmas Histórias" (Edu Lobo); "Aleluia" (Edu e Ruy Guerra); "Canção da Terra" (Edu Lobo e Ruy Guerra); "Zambi" (Edu Lobo e Vinícius de Moraes); "Reza" (Edu e Ruy Guerra); "Arrastão" (Edu Lobo e Vinícius de Moraes); "Réquiem Para Um Amor" (Edu Lobo e Ruy Guerra); "Chegança" (Edu e Oduvaldo Viana Filho); "Canção do Amanhecer" (Edu e Vinícius de Moraes); e "Em Tempo de Adeus" (Edu Lobo e Ruy Guerra). (Vale registrar que nem todas as letras das canções acima são explicitamente "de protesto". Entretanto, dada a situação política vigente, singelos versos de amor podiam ganhar a força de uma diatribe contra a ditadura militar - e invariavelmente assim era). Passados 43 anos, eis que A música de Edu Lobo por Edu Lobo nos chega em CD lançado pela Dubas Música. Bem-vindo!Ouvir com ouvidos atualizados as músicas seminais de Edu Lobo, além de causar momentos de pura e mágica saudade, revela o porquê de ele ser o grande compositor que é; o porquê de ele hoje estar entre os maiores harmonizadores e melodistas da música popular brasileira. Voltando no tempo: graças ao estrondoso sucesso de "Arrastão" e "Ponteio", Edu entrou numa verdadeira roda-viva de shows, programas de televisão, entrevistas, gravações... O sucesso. E o cantor era cada vez mais requisitado. O compositor estranhava. Mas o mercado exigia. O cantor cedia. O compositor padecia. E o compositor pegou o cantor pela mão e foi aos Estados Unidos estudar música. Na volta para o Brasil, anos mais tarde, veio apenas o compositor. O cantor ficou por lá. Assim decidiu Edu Lobo, a quem uma bela seqüência de acordes, isso sim, passou a interessar. Criá-los é seu mundo. Cria-os e dá um tempo. Outros acordes surgem. A soma deles tece a harmonia. Como um alfaiate, agulha e linha entre os dedos, o compositor costura o pano de fundo da sua emoção. E desse prazer vive o garimpeiro de um veio invisível. Da harmonia extrai a alma que impulsiona o poder da criação. Sobre a cama macia, harmoniosa, Edu estende o lençol da melodia feita nota por nota. Inventada a harmonia, criada a melodia, nasce a música. Com ritmo, com versos. Orquestrada, sem versos. Para balé, teatro, cinema... Simplesmente música de Edu Lobo. Um compositor brasileiro.Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4