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Olha o Dudu aí, gente!


E os sambas-enredo selecionados são antes de tudo, e Dudu o canta para comprovar, canções que têm valor próprio e ótima qualidade.  Ele canta fugindo respeitosamente de estereótipos característicos do gênero. Seus bons dotes vocais, incluídos a afinação correta, o suingue de sambista e a ótima divisão rítmica, o colocam entre os grandes cantores de samba-enredo. Reino onde brilham Jamelão, Neguinho da Beija-Flor, Dominguinhos do Estácio, Paulinho Mocidade..Os 12 sambas-enredos que estão no CD Dudu Nobre - Os mais belos sambas-enredos de todos os tempos foram selecionados a partir de uma lista de 80 maiores músicas do gênero, segundo a opinião de experts como Sérgio Cabral - o pai, Zeca Pagodinho, Haroldo Costa e outros. Dos 80 pré-selecionados, 24 foram apresentados por Dudu no Domingão do Faustão para que os telespectadores pudessem votar e escolher os 12 melhores sambas-enredos.Aliás, é bom que se diga que a idéia de juntá-los, cantados por quem não é um puxador por ofício (perdão, mestre Jamelão... um intérprete do gênero) não é nova. A própria Universal, quando ainda se chamava Pholygran (ou seria Phonogran?), fez alguns discos com a mesma e boa intenção.A seleção musical feita para Dudu Nobre - Os mais belos sambas-enredos de todos os tempos é boa. Corre o risco, claro, de ser contestada pontualmente - como de resto, aliás, corre qualquer lista de "melhores". Mas os sambas escolhidos são uma boa amostragem da produção que vai de 1964 ("Aquarela Brasileira) até 1998 ("Peguei Um Ita no Norte").O disco abre como que remetendo o ouvinte a um filme no qual o enredo é composto por músicas e letras. Uma batucada nos leva ao mundo da bateria de uma escola de samba, e é fácil seguir com ela. O ano é o de 1982, ano de inauguração do Sambódromo carioca. Nas arquibancadas ouve-se o uníssono que entusiasticamente acompanha a entrada da União da Ilha na avenida. "É Hoje" (Mestrinho e Didi), cantam todos. Um corte brusco e vem a "imagem" de Dudu Nobre cantando acompanhado por uma bateria que não deixa barato para àquela da Ilha. E se ouve também o som de violino, viola e cello, e também de trompete, trombone e sax. É quando se percebe o arranjo muito bem composto por Rildo Hora. Ao longo do CD, outros arranjos dão às músicas tratamento que foge dos padrões usuais das gravações de samba-enredo. E tem mais: "O Amanhã" (João Sérgio), samba da União da Ilha, de 1978, arranjo também do craque Rildo Hora que ainda toca sua gaita; com arranjo de Jotinha Moraes, o clássico imortal "Aquarela Brasileira", que Silas de Oliveira fez para o carnaval do Império Serrano, em 1968, quando o desfile ainda era na Avenida Presidente Vargas; o antológico "Kizomba - Festa de Uma Raça" (Rodolpho, Jonas e Luis Carlos da Vila), da Unidos de Vila Isabel, carnaval de 1988, com arranjo do sempre competente maestro Ivan Paulo; o belíssimo "Lendas e Mistérios da Amazônia" (Catoni, Jabolô e Waltenir Cruz), feito para a Portela desfilar em 1970 e que traz ótimo arranjo do inspiradíssimo maestro Leonardo Bruno.Os sambas foram gravados numa cadência um pouquinho mais lenta, não muito, mas o suficiente para ajudá-los a tentar fugir da marchinização frenética que o regulamento impõe aos sambas-enredos atuais. Dudu Nobre - Os mais belos sambas-enredos de todos os tempos é um ótimo CD, do qual nos valeremos sempre que quisermos ouvir grandes sambas-enredos bem cantados e tocados por quem entende do assunto. Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4 e autor de O Gogó de Aquiles, ed. A Girafa. Seus textos são publicados semanalmente no Acontece na  no Diário do Comércio (ACSP), Meio Norte (Teresina), A Gazeta (Cuiabá), Jornal da Cidade (Poços de Caldas) e Brazilian Voice (EUA). No rádio, sempre às segundas-feiras, das 15h às 16h, "O Gogo de Aquiles" vai muito bem, obrigado. Você poderá escutá-lo (no Rio de Janeiro) sintonizando diretamente na Rádio Roquete Pinto, ou (fora do Rio) na internet: www.fm94.rj.gov.br .