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Os tempos de juventude eterna


Sem desmerecer essas recriações dos cadernos de atividades de minha infância, não consigo compreender como um adulto vai se interessar em transcrever “sua citação favorita” e reescrevê-la “de cinco maneiras diferentes”. Será que a era da informação nos transformou em imaturos obedientes, que precisam de estímulos tão débeis? Compreendo que sejam (bem) aproveitados por crianças, como as meninas de sete a treze anos a quem sempre dou esses livros. E realmente, fico intrigada com a abrangência da classificação “jovem adulto” – um grupo que se situa em faixas etárias iniciais na pós-adolescência e se estende até os mais de trinta anos – aos quais se dirigem, teoricamente, tais publicações. 

Não é de hoje que juventude tornou-se um conceito, mais do que uma fase da vida. A evidente facilidade das novas gerações em lidar com a parafernália tecnológica da atualidade levou, pela primeira vez em séculos, à inversão da relevância social dos idosos nas sociedades da África, conforme constatou o jornalista e sociólogo Frédéric Martel, autor de  Smart – o que você não saba sobre a Internet (Civilização Brasileira, R$ 65). Autor de uma pesquisa de quatro anos em diversos países, incluindo o Brasil, ele afirma que a globalização não consegue unificar culturalmente o planeta. Além de analisar diferenças políticas e culturais, Martel trata de algumas  modificações nas relações da sociedade, que tende a valorizar a  destreza dos jovens no manejo das ferramentas mais modernas.

A mesma observação está em Cubiculados – a história secreta do local de trabalho (Rocco, R$ 49,90), do jornalista Nikil Saval, quando aponta o fim dos códigos de vestuário nos escritórios a partir da criação das empresas de informática do Vale do Silício, na Califórnia. Segundo Saval, o desleixo no vestir e o pouco apreço à organização do ambiente deram às start ups a aparência de “quartos de adolescente” ou dos alojamentos universitários norte-americanos. A análise da evolução de todos os aspectos relacionados ao trabalho a partir da revolução industrial esbanja crítica e sarcasmo, sem fazer previsões sobre o fim do espaço que 93% dos trabalhadores odeiam.