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Papai Noel de Copacabana


Papai Noel colocou crianças no colo, beijou senhoras e abraçou senhores, sempre enaltecendo as maravilhas do cardápio da casa, também mezzo japonês mezzo nordestino, que se orgulhava ainda de ter um cozinheiro tão bom nos massas italianas quanto nos torresmos e assados mineiros.Lá pelas duas da tarde um chapa do estabelecimento trouxe um sanduíche caprichado – a casa tinha também um departamento variado no fast food – que o herói engoliu às pressas, entre um hô! hô! hô! hô! e outro, tendo depois um trabalho danado para afastar os nervinhos de carne nos dentes e catar os farelos de pão da belíssima barba postiça.– Tudo pelo espírito natalino! – disse para o rapaz da banca de revistas em frente, que esboçara um sorriso meio sacana, “e pela graninha que esse libanês de uma figa vai liberar depois do expediente”, pensou, fazendo planos para o almoço com filhos e netos no dia seguinte, tendo direito a vinho de garrafão à vontade e a rabanada feita pela patroa, sucesso absoluto na Zona Oeste.Por pensar em expediente, resolveu perguntar ao gerente da casa a que horas o mesmo se encerrava. “Ficamos abertos até o último cliente”, foi a resposta, e Papai Noel se sentiu como entalado em uma chaminé. Mas como Deus é bom, pai e camarada, e o Menino Jesus faria aniversário daí a poucas horas, no começo da noite os copacabanenses foram para casa, cuidar de suas ceias, e o libanês deu os trabalhos por encerrado, colocando duas notas de cinqüenta reais na mão do operário natalino, que agradeceu com um hô! hô! hô! hô! aliviado e picou a mula em direção ao ponto do ônibus, não sem antes dar uma paradinha estratégica no boteco da Ayres Saldanha, quase esquina de Almirante Gonçalves. Cervejinha das mais geladas, um bom traçado acompanhando, moela dos deus no balcão, servida com fatias de pão fresquinho, o bom homem foi ficando e perdeu noção de horário. O rumo de casa ele só encontrou no dia seguinte, quando chegou em péssimo estado ali pela hora do almoço. Das duas notas de cinqüenta, restavam uns poucos trocados.Panelas vazias, convidados com fome nas cadeiras da sala, Papai Noel descansou o saco cheio de caixas vazias e jornal amassado sobre a poltrona mais próxima e foi o mais sincero que pôde: – Os animais se rebelaram, desembestaram, queriam porque queriam passar o Natal no Jóquei. Vá se confiar em renas brasileiras!