Loading...

Paulo Moura, um dos maiores músicos do mundo


Lembranças: Alguns anos atrás fui ao Sesc Pompeia, em São Paulo, assistir a um show em que Paulo Moura lançava um CD com o forrozeiro Josildo Sá. Depois da apresentação fui ao camarim para trocar um dedo de prosa com o Paulo. Foi quando ele me fez uma confidência. Confidência: "Puxa, vida, Aquiles, me lembro tanto daquele show que fizemos juntos com o Chico Buarque... Mas vou contar uma coisa pra você agora que nunca contei pra ninguém. Até porque nem eu sei exatamente o que aconteceu. Mas se você se lembrar do caso, talvez possa me ajudar a descobrir o que de fato aconteceu naquela noite." "Meu Deus, o que será que aconteceu?", pensei. E Paulo Moura continuou: "Acho que era um sábado. Depois de um encontro social com alguns amigos, depois de já ter bebido uns uísques, fui direto pro show. Cheguei meio que em cima da hora. Logo fomos para o palco e eu me sentei no meu lugar, um banco que ficava num cantinho do palco, perto de uma pilastra. Toquei a primeira música, a segunda... E dormi. Com a cabeça encostada na pilastra, só acordei quando vocês todos já agradeciam os aplausos no final do show. Ninguém falou nada comigo. Fiquei arrasado. No dia seguinte, cheguei para o show e esperei alguma repreensão, alguma gozação, qualquer coisa. Nada. Como na noite anterior, ninguém disse nada. Foi aí que me veio a dúvida que me acompanha desde aquela noite: será que eles nem perceberam que eu dormi e não toquei praticamente o show inteiro? Ou será que sacaram e preferiram não dizer nada pra não me deixar encabulado?" Não respondi, ri, e rimos, e eu desconversei, até porque, passados tantos anos, eu já não me lembrava do caso que acabara de ouvir. Mas ficou em mim, e no ar, a provável resposta que não dei: quem sabe não dissemos nada, nem muito menos pensamos em acordá-lo, por temer interromper o sono de um gênio justamente quando ele estava precisando tanto de um bom cochilo?Doença: Após um período de internação numa clínica na zona sul do Rio de Janeiro, no dia 13 de julho de 2010 um câncer no sistema linfático tirou Paulo deste círculo e o levou embora. Restaram na garganta um nó e um gosto misturado de saudade da música e de dor pela perda.Despedida: Dois dias antes, numa tocante e emocionada roda de choro realizada na clínica, Paulo tocou pela última vez, ao menos aqui nesta esfera. Com isso, certamente pretendeu marcar a sua inexorável passagem com um legado de paixão pelo seu ofício que a todos cativou e seduziu. Estavam com ele Halina, sua mulher, Domingos, seu filho, Gabriel, seu sobrinho, e também alguns músicos. Adeus: Era como se, ao se despedir da música e dos amigos, Paulo Moura desse o recado: seguirei tocando; sigam a música, nela eu viverei.Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4PS. Este texto é um condensado do artigo publicado no Livro do Ano da Barsa - 2010.