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Paulo Moura é música


Nenhum músico é tão plural quanto ele; nenhum de seus contemporâneos atingiu o grau de arrojo e técnica que ele conseguiu graças a uma visão extremamente generosa do que seja criar música, tocando-a em sua clarineta.“Afinação é questão de gosto”, teria dito Paulo. E assim ele se fez, dando de ombros à mesmice, desmistificando tabus, desmoralizando dogmas, acrescentando picardia. Enxergando na musicalidade africana, brasileira e norte-americana pontos convergentes, fez de sua música a síntese latente nessas manifestações. Delas subtraiu excessos e revelou modernidades que pareciam só dar espaço à tradicionalidade. Paulo Moura nasceu em São José do Rio Preto, interior de São Paulo. Filho de Pedro Gonçalves de Moura e de Cesarina Cândida de Moura, Paulo era o caçula dentre dez irmãos, seis homens e quatro mulheres. Porém, a Revolução Constitucionalista de 1932, iniciada em São Paulo, contra o Governo Federal de Getulio Vargas, impediu que seu pai o registrasse na data exata de seu nascimento. Assim, aquela que consta em seus documentos oficiais é 17 de fevereiro de 1933. Sua verdadeira data de nascimento é 15 de julho de 1932.Seu Pedro Gonçalves, marceneiro de profissão, clarinetista e saxofonista da banda local, tinha seu próprio conjunto e ensinou música aos filhos com a finalidade de poupar os mais velhos da Segunda Grande Guerra, que estava sendo anunciada. Caso fossem convocados, poderiam servir na banda de música do Exército, sem perigo de seguirem para a Infantaria, imaginava. Junta, a família poderia ter formado um grupo apenas com seus integrantes: José e Alberico nos trompetes, Waldemar no trombone, Seu Pedro, Pedro Júnior e Paulo Moura nos saxofones, Francisco na bateria e Filomena ao piano. O grupo não se formou, mas daquela possibilidade cresceu para a música um dos maiores instrumentistas do mundo: Paulo Moura, o filho caçula de seu Pedro Gonçalves.Paulo Moura é um clarinetista que não teme a música. Para ele, venham o swing ou o bebop, o choro ou a valsa, a todas ele tocará como o que simplesmente são: música boa. Paulo é do samba e do forró; é do jazz e da música clássica. E sua extensa discografia está aí para demonstrar seu ecletismo. Seu primeiro compacto simples, lançado pela Columbia, em 1956, tinha, no lado A, “Moto Perpétuo”, de Pagannini, até então considerado impossível de ser tocado por um instrumento de sopro, e, no lado B, “O Vôo do Besouro”, de Rimsky Corsakov. Até hoje foram quase 40 discos a demonstrar sua mestria de não se prender a estilos, desde que a todos dê o seu melhor sopro. Álbuns nos quais Paulo Moura passeia sua genialidade, que vem sempre de mãos dadas com a generosidade, feito Música de Latada, que dividiu com o forrozeiro Josildo Sá. Ou aqueles gravados com o pianista norte-americano Cliff Korman. Ou ainda Consertão, gravado com o pianista Arthur Moreira Lima, com o violonista Heraldo do Monte e com o cantador Elomar. Ou então Dois Irmãos (1996), com Raphael Rabelo; El Negro del Blanco (2004), com Yamandú Costa; Cinema Odeon (1996), com Clara Sverner; e Confusão Urbana, Suburbana e Rural (1976), produzido por Martinho da Vila. Sem falar no som de gafieira, uma das paixões de Paulo, que não se cansa de tocar sua clarineta para os casais rodopiarem nas pistas de dança. Dela, transparente, ele sobrevive. De sua essência, personificada pelo estilo único, inconfundível, Paulo Moura cria o som que o abençoa e nos comove. Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4 e autor de O Gogó de Aquiles, ed. A Girafa. Seus textos são publicados semanalmente no Acontece na  no Diário do Comércio (ACSP), Meio Norte (Teresina), A Gazeta (Cuiabá), Jornal da Cidade (Poços de Caldas) e Brazilian Voice (EUA). No rádio, sempre às segundas-feiras, das 15h às 16h, "O Gogo de Aquiles" vai muito bem, obrigado. Você poderá escutá-lo (no Rio de Janeiro) sintonizando diretamente na Rádio Roquete Pinto, ou (fora do Rio) na internet: www.fm94.rj.gov.br .