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Pior do que está não fica. Ou fica?


Foi um ano de muitas perdas. Muitos perderam juízo. Tantos perderam a vergonha.


Doeu ver o Rio Doce, irmão dos mineiros e dos capixabas, paixão de todos os brasileiros, cantando em verso e prosa por tantos poetas e cantadores, agonizando na lama da ganância e da irresponsabilidade. Jamais pensei em viver para ver um rio morrer de sede; e não no sentido poético nem prosaico nem figurado.


Doeu ver o mundo tremer de medo diante da carnificina explosiva que alucinados promoveram na França (só ali, duas vezes no mesmo ano), ensaiaram na Bélgica, ameaçaram em outros países. O medo se espalhou com a força do pânico, as garras do terror, o susto de horror absoluto (até porque, o horror nunca é relativo).


Para nós, deste Rio de Janeiro que viu tanto necessitado chorando na fila dos hospitais públicos, cardiopatas morrerem em frente a instituto de cardiologia, padecimentos à espera da consulta, do exame, da cirurgia, da hemodiálise, da palavra de carinho ou pelo menos de respeito, foi mais um ano de angústia, temores e balas perdidas achando inocentes. Inferno nas linhas Vermelha e Amarela, com pais desesperados correndo a esmo com bebês no colo, protegendo-se com eles atrás de carros, no chão, nas valas. Foram tantas noites de cães danados, uivando entre tiroteios, esfaqueamentos insanos, arrastões nas praias, nos bares, nas ruas, até dentro da Cobal.


Foi o ano em que a Universidade do Estado do Rio de Janeiro pediu para sair, que políticos estaduais e municipais jogaram para a torcida (afinal, véspera de ano eleitoral)