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Quando ler cura todos os males


Embora seja inspirada na vivência da própria Isabela Freitas, sua protagonista e xará é uma criação, afirma a escritora, que, como a personagem, largou a faculdade de Direito e espera se firmar no meio literário. No livro, Isabela troca Juiz de Fora por São Paulo para escrever uma coluna de aconselhamento e motivação numa revista virtual. Aluga uma quitinete na Rua Augusta e tem como vizinho de porta o melhor amigo/ficante/rolo, Pedro, que tenta carreira de músico e já conquistou uma legião de fãs apaixonadas com seus shows na noite paulistana. Enquanto o casal se debate se torna ou não público o relacionamento, ela discorre sobre as relações amorosas, afetivas e profissionais de hoje, com um olhar mais amadurecido para a vivência, incluindo enfrentar duas vilãs mais velhas, sofisticadas e maquiavélicas, além do sofrimento por uma morte na família.

Não faltam estereótipos no roteiro que emprega a fórmula do romance: casalzinho apaixonado está tranquilo até a moça sentir-se enciumada e decidir abrir mão do amor em prol do sucesso profissional do homem, que, no entanto, prefere a penúria a viver longe de sua paixão e se mostra maravilhoso, pronto para o compromisso e uma vida em comum. O interessante, no entanto, é que Isabela Freitas demonstra mais agilidade e domínio das técnicas de envolvimento dos leitores, fazendo blague com as desgraças da protagonista, seguindo o modelo consagrado pela britânica Helen Fielding com O diário de Bridget Jones, um marco da chick-lit, o romance “mulherzinha”. O texto de Isabela, hoje, é divertido, mesmo sem deixar de lado as pitadas motivacionais, que levam seus trabalhos a serem classificados como autoajuda. Talvez o segredo do sucesso de sua obra esteja nessa mistura de trama romântica com mensagens incentivadoras para jovens, ao estilo das revistas “femininas”, que hoje discutem o mercado profissional tanto como os temas tradicionalmente reservados a essas editoriais – amor, sexo, decoração, beleza e maternidade.

Motivacional também pode ser considerado o simpático A Livraria Mágica de Paris (Record, R$, da alemã Nina George, que vendeu mais de um milhão de exemplares em trinta países. O enredo se concentra no livreiro Perdu, que tenta redescobrir o prazer de viver, rumando para o Sul em seu barco-livraria, acompanhado por um vizinho escritor e um cozinheiro. Durante mais de vinte anos, Perdu purga o sofrimento por ter sido abandonado por uma mulher anulando-se pessoalmente e se dedicando a cuidar das outras pessoas, receitando-lhes a leitura de livros que as ajudarão a superar problemas. Por menos inovadora que seja a trama, não há como escapar do sorriso cúmplice e deliciado ao reconhecer a propriedade da recomendação de títulos diversos como Moby Dick, A elegância do ouriço e o Guia do mochileiro das galáxias para a cura de diferentes males, a serem ingeridos, de preferência “com os pés quentinhos e um gato no colo”.