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Renato Rocha lança CD que vem encartado num livro do mais puro e afetuoso bom-gosto


Autor de “A Lua”, além de tantas outras belas canções compostas com parceiros diversos, como Geraldo Azevedo, por exemplo, sua criação maior é, entretanto, Adivinhe o que é, que o MPB4 transformou em espetáculo teatral sob a direção de Benjamim Santos em 1981 – um dos momentos mais emocionantes e importantes dos quase 45 anos de carreira do grupo.Seguindo o rumo para desemaranhar o universo infantil, que ele tão bem cultiva aceso em seu mundo adulto, Renato Rocha criou uma nova pequena obra-mestra, A Flor Mal-Humorada (Editora Peirópolis). Um livro e um CD que se completam na missão de revelar uma história de sutil engrenagem.O livro traz ilustrações feitas em guache e tinta acrílica por Sheila Dain, ela que é também a mãe da caçula de Renato Rocha, para quem ele contava a historinha que hoje renasce em forma de brochura, com medidas um pouco maiores do que a embalagem de um CD. Plena de cores fortes, cada página aguça o olhar em direção ao mundo de fantasia descrito em traços carregados de oblíquas intenções. A mistura de cores vivas reflete numa leitura vivamente rica em segundas e terceiras intenções.O CD vem encartado na capa do livro. Valendo-se de um quinteto de metais integrado por Luis Carlos Justi (oboé e corne-inglês), Philip Doyle (trompa), Andrea Ernest Dias (flauta), Mauro Ávila (fagote) e Ricardo Ferreira (clarinete), a arranjadora e regente Ignez Perdigão sonorizou o diálogo entre a flor mal-humorada, que reclama por estar num vaso muito pequeno, uma borboleta, o tal vaso e uma mesa, sobre a qual todos estão.A concepção do arranjo dá à história um ar de opereta musical. Mas Ignez foi mais longe, identificou cada personagem com o timbre de um dos instrumentos. Impregnado pelo som que lhe emprestou personalidade, todo o trecho cantado se mostra ainda mais belo e convincente. Coube a Renato Rocha ser o narrador e também o violonista do álbum. Mariana Bernardes canta o mau-humor da flor. Luciana Lazulli interpreta a mesa, enquanto Sérvio Túlio defende a voz do vaso. A borboleta não fala, ela voa. Com o toque de ousadia e desprendimento que marcam o temperamento musical de Renato Rocha, o CD tem apenas duas faixas. A primeira é a versão integral do poema-narrativo, a segunda, a sua versão instrumental. Juntas, não chegam a oito minutos. Fina concisão de versos somados à amorosidade de notas musicais, o A Flor Mal-Humorada foi bolado por Renato Rocha para extravasar seu poder de criar conteúdo de uma forma tão precisa que só a sua enorme capacidade de síntese é capaz de abarcar.Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4