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São João do carneirinho


Acontece que um dia – como boa parte dos jovens inquietos de minha geração – piquei a mula do pé de serra e dei com os costados na cidade grande. A província ficara pequena para o coração que ainda pensava em “ganhar o mundo”.

 Pois perdeu, playboy. E perde até hoje.

 Meu primeiro folguedo junino no Rio de Janeiro foi duro. Na noite 23 para 24 de junho, exatamente na data em que, noutros tempos, estaria novamente reverenciando Luiz Gonzaga, eu perambulava sem programa e sem paradeiro. Lembrando-me das canjicas, do milho assado e do amendoim cozido preso no dente da primeira namorada (de maquiagem transbordante e pintinhas pretas ao redor dos olhos), peguei um circular na Glória (via Flamengo, Botafogo, Humaitá, Gávea, Leblon, Copacabana) para dar a volta na cidade, sentado ao lado da janela, procurando balões imaginários no céu.

 Foi quando a figura se sentou ao meu lado, na altura da Praça do Jóquei. Estranhei quando pressionou a sua perna contra a minha, mas pensei tratar-se apenas de um desajeitado. Desconfiei de que não era bem isso quando a boca a mole, de língua meio presa, balbuciou:

 – Adoro São João.

 Juro pelas almas de Dominguinhos e de Jackson do Pandeiro: os olhos faziam aquele volteio das borboletas bêbadas. A mão, lânguida feito um calango, descansou sobre o meu ombro.
 Sorriu, displicentemente, e começou a cantar:

 – Meu balãããããooo vai subir lá no céééééu... Vai subir lá no céééééu meu balãããããooo... Meu balãããããooo vai subir lá no céééééu... balãããããooo, balãããããooo, meu balãããããooo...

 O pior é que, até ser vítima do assédio (E quem não? E quem nunca?) essa era uma de minhas toadas juninas preferidas. Fiz sinal em Copacabana, estava precisando de uma caminhada pela praia. A perna sonsa quase não me deu passagem. A boca mole e a língua presa emendavam no repertório:

 Ai, São Joãããããooo... São Joãããããooo do carneiriiiiiinho... Você é tão bonitiiiiinho...

 Onde encontraria uma canjica ou um licorzim de jenipapo, àquela hora? Impossível. Resolvi caminhar pelo bairro e dei uma esticada até o bar Bip Bip, onde, em homenagem a São João, Santo Antônio e São Pedro, bebi umas cervejas com São Alfredinho, santo que é de casa e volta e meia faz milagre.