Loading...

Sem medo de ser feliz


Oswaldo Montenegro é intenso. Personalidade forte, seu talento vem da segurança gravada a fogo na experiência. Sua voz, assim como sua imagem, permanece inalterada, dando a impressão de ser excessiva. Mas a maturidade para ele chegou com a convicção de que na música não há cantar exagerado, há sim o cantar a ser aberto e lançado ao ar.Bebendo água límpida, mas sem esquecer a água que, imundada, deságua no oceano, vai o trovador alado. Voando em contestações sutis ou em provocações irônicas, em meio a delírios e sentimentalismos, suas asas ascendem à multiplicidade do talento de um cara no qual o tempo preservou o jeito pop e juvenil de ser.Com significativas nuanças instrumentais, arranjadas com simplicidade, mas plenas de fortalezas, o repertório do álbum reflete a alma inquieta do compositor. A diversidade diz presente: há rap e há baião; há blues, há canção; há teclado e viola, há guitarra e percussão; há flauta, bateria, contrabaixo e violão.Cantadas por Oswaldo, qualquer música boa ganha ares épicos. Com seu poderio vocal, algumas canções têm um quê de gospel ou um ar de quem em nada confia e em ninguém crê. Assim é Oswaldo Montenegro.“Não Importa Por Quê” (O.M.) é um baião imoderado. Com uma levada trazida do mangue beat, Oswaldo se mune do seu violão e a ele junta a guitarra e o baixo de Alexandre Meu Rei (também responsável pela mixagem do CD) para arrepiar num baioque de ampla pegada.O rap “Eu Quero Ser Feliz Agora” (O.M.) começa lentamente, mas logo vem o arrebatamento. Um refrão poderoso ganha contornos ainda mais cáusticos com a guitarra nas mãos de Alexandre Meu Rei. A flauta de Madalena Salles abrilhanta. Todos na pulsação da bateria de Pedro Mamede. Oswaldo recita os versos com uma picardia de quem parece ter sempre assim se expressado.“De Passagem” (Léo Pinheiro, Tião Pinheiro e J. Bulhões), uma balada em que violão, flauta, baixo, teclado e piano são tão vigorosos quanto a voz de Oswaldo, mostra-se um dos melhores momentos do álbum. Ele sola a primeira parte e, na segunda, cantando segunda voz para ele mesmo com o apoio da guitarra e de um coral, faz da música um momento de intensa magia. A mixagem brilha ao nivelar a voz de Oswaldo ao bandolim de Sérgio Chiavazzoli. O som resultante é lírico e é explosivo.“Pra Ser Feliz” (O.M.) fecha o instigante CD e dá chance a nova reflexão. Deduz-se por seus versos o que move Oswaldo Montenegro: para ele, nada há a lamentar. Algo se foi? Deixe que vá. Perdeu? Larga pra lá. Nada a provar. Tudo a viver. Tudo a sempre e forte cantar.Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4