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Show em Si-moninha


Melhor é quando o homem se entrega ao sonho de se revelar por inteiro. Melhor é quando o compositor canta sua trajetória, refaz-se e multiplica-se. Melhor é quando o cantor divide com quem o ouve o seu belo ofício de criar melodias, harmonias, letras, descobrir qual a melhor levada que dará sabor, suingue, sentimento e sabedoria a seu encantar. Melhor é assim: melhor hoje do que foi ontem; ainda melhor amanhã do que foi antes de ontem; melhor, e ainda muitíssimo mais e melhor, será sempre ser Melhor. Pior seria nunca poder ser melhor. Melhor é um álbum coeso, fruto de uma concepção musical baseada em primeiro lugar na força da levada mais adequada a cada samba gravado. O nexo resulta do acerto de cada descoberta: a cada samba a sua levada; a cada levada a sua instrumentação; a cada instrumentação uma interpretação que a tudo valorize.A mixagem é digna de quem sabe exatamente o que quer, justamente o perfil dos meninos da gravadora S de Samba: põem um pingo em cada “i”. Não há nota que não se escute, não há som que não se ofereça.    Simoninha gravou sambas feitos com diversos parceiros: Jair Oliveira (“A Saideira (Samba Negro)” e “Navegador de Estrelas” (um dos bons momentos do álbum), ele que toca violão e também diz presente em “Rei da Luta”, samba só dele; Seu Jorge (“Ela É Brasileira”, a melhor faixa do CD, que também tem Max de Castro como autor); Pierre Aderne (“Mareio”) e Jorge Bem Jor (“Sossega”). Gravou sambas de outros autores e três, só seus: “Eu Sei Que Você Vai Me Entender”, “Samba Novo” e “26 de Dezembro”.Produzido por seu irmão Max de Castro – que também toca violão, guitarra e fez as programações –, Simoninha se vale da voz cheia, plena, de um bom grave e de um baita balanço. Melhor tem instrumentação variada, mas sempre usa a bateria de Daniel de Paula e o baixo de Rubinho, além de, eventualmente, ter a percussão de Guto Bocão Vai-Vai e o piano de Marcelo Maita.Melhor conta também com diversas participações especiais: Seu Jorge, que canta com Simoninha na faixa que compuseram; o pianista William Magalhães, em “Rei da Luta; o guitarrista Luis Wagner, em “Ela É Brasileira”; Cláudio Zoli na guitarra e fazendo a voz solo em “Sossega”, além de também tocar guitarra em “Eu Sei Que Você Vai Me Entender”; Milton Guedes e sua gaita em “É Bom Andar A Pé (Melhor)”; Nailor Azevedo “Proveta”, clarinete em “Balanço (Balanço Bom É Coisa Rara)”, e Paulo Calasans tocando piano na música que fecha o álbum, “26 de Dezembro”. Primor de sensibilidade, contrastando com o clima festivo de todo o CD, esta canção faz de Wilson Simoninha um livro aberto e ainda a ser desvendado por quem o ama.  A “26 de Dezembro”, aliás, devem-se as divagações lá nos primeiros parágrafos. E como digressão pouca é bobagem... Melhor é ter o que sentir e disso tirar poesia. Melhor é poder saber-se ouvido e amado pelo que se faz. Melhor é nunca calar, mesmo que a dor lhe arda o peito. Melhor é sorrir enquanto a lágrima teima em vir; melhor é deitar, rolar e fazer corpos balançarem ao ritmo que lhe germina na cabeça, na alma e no coração. Melhor é ser a vida musicada em prosa e verso, e dela extrair a força que o tornará ainda mais sensível às dores do viver.Enquanto compõe e canta, o homem fica melhor; enquanto se faz maestro de uma música que lhe corre pela negritude das veias, o menino se vê diante de sua história; enquanto se junta aos seus irmãos de pele e sentimento, o músico vai ao longe e lá, do alto inexpugnável, torna-se imune às falsidades do mundo, meu nego.Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4 PS. E quando tudo parecia voltar à normalidade, vão-se outros dois músicos: J. T. Meirelles, um grande saxofonista, e Jamelão, um dos maiores cantores brasileiros de todos os tempos. Triste. Muito triste.