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Sobrevivência em águas turbulentas


Em Pawana, os pescadores saem de Nantucket  para contornar o continente americano e alcançar, na costa da Califórnia, uma baía onde as baleias se encontram para reproduzir ou dar à luz. Desbravadores, eles iniciam a matança de baleias numa região fechada, sem o desgaste da caça em mar aberto. Nessa época, cardumes de mamíferos já haviam abandonado as águas de Nantucket, onde foi criado o jovem John, que, na velhice, relata as lembranças do santuário destruído. Outra visão da sistemática perseguição aos animais é  do capitão da baleeira, Charles Melville Scammon. Da mesma forma que John, Scammon conclui que o extermínio dos majestosos animais levará ao fim da vida na Terra.

A inspiração para a história da obsessão de Ahab em perseguir até a morte Moby Dick  vem de duas fontes reais – as narrativas sobre uma baleia branca, apelidada de Mocha Dick, que durante anos escapou dos caçadores  na região próxima à ilha de Mocha, na costa do Chile, e o naufrágio do baleeiro Essex, em 1820. Resgatados depois de três meses no mar em botes salva-vidas, os tripulantes do Essex sobreviveram alimentando-se dos corpos de companheiros mortos (naturalmente ou assassinados) ao longo da viagem. Em No coração do mar (Companhia das Letras, R$  64,90), que deu ao historiador Nathaniel Philbrick o National Book Award em não-ficção de 2000, a tragédia do Essex é narrada, mencionando, mas não apontando como causa do desastre, a perseguição a uma baleia no Pacífico Sul. Os relatos da época contam que a baleia havia destruído o navio, uma possibilidade real, porém não comprovada.

Herman Melville só visitou Nantucket alguns anos depois da publicação de Moby Dick. No último dia de sua estada na ilha, o escritor se encontrou com o capitão do Essex, George Pollard, alguém sem importância para os moradores locais, mas segundo  Melville “o mais impressionante dos homens,  totalmente despretensioso, até humilde” que conhecera. O sucesso de Moby Dick só aconteceu por volta de 1920, quando D.H. Lawrence escreveu artigos afirmando que aquele era o maior romance da literatura mundial.  Melville, que aos vinte anos fez parte da tripulação de um baleeiro, mistura ficção e informações genuínas sobre a caça e a comercialização dos produtos extraídos da baleia.  Mestre em temas humanistas, ele ainda lançaria Bartleby, o escrivão – Uma história de Wall Street ( Autêntica, R$ 22,70), outra obra-prima que teve como base sua experiência em escritórios novaiorquinos.