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Sucesso é...


Mas chegará o dia (será?) em que a nossa música, aquela que tem excepcional qualidade, poderá ser descoberta e ouvida em toda a plenitude de suas enormes qualidades e quantidade pelo grande público. Porque a este contingente (até quando?) não tem sido dado o direito de ouvir para escolher suas canções prediletas e, assim, levá-las a ser um tão grande sucesso quanto as coreografadas e as da novela.Mas vamos ao que interessa. Rasgando Seda – Guinga + Quinteto Villa-Lobos (SESC-SP), é o CD que comemora cinquenta anos de carreira do Quinteto e o reúne a Guinga para interpretar doze músicas (parcerias com Paulo César Pinheiro, Aldir Blanc e Sérgio Natureza) deste violonista que é um dos nossos maiores compositores.Não se pode falar do Quinteto sem falar daquele que foi o ideólogo do que o grupo traria à cena musical camerística nos anos 1960: o pernambucano Airton Barbosa (1942-1980). Tocando fagote como músico erudito, que ele de fato era; fazendo suingar seu instrumento como um chorão, que ele também era; mesclando a ginga do morro com a improvisação de Nova Orleans, sem muros entre o erudito e o popular, como poucos se encorajavam a fazer na época, assim era Airton Barbosa, experimentalista, inovador.Com seu som de acentuada contemporaneidade, o Quinteto sempre deliciou quem o escutava e também rompeu barreiras que buscavam, e até hoje ainda tentam, emparedar a música. Para seus cinco componentes não existe gênero que não possa ser tocado por bons instrumentistas. E virtuosos os seus integrantes sempre foram – e ainda são na formação atual: Toninho Carrasqueira (flauta), Luis Carlos Justi (oboé), Paulo Sérgio Santos (clarinete), Philip Doyle (trompa) e Aloysio Fagerlande (fagote).Ao buscarem no repertório de Guinga a possibilidade de levar seus princípios musicais a extremos, o Quinteto Villa-Lobos criou um disco de rara sensibilidade. Com o compositor ao violão em oito faixas e cantando em uma, o grupo mostra excelência requintada. Suas interpretações, em arranjos de Vittor Santos, Paulo Aragão e Paulo Sérgio Santos, são dignas de representar a imagem sonorizada de algo sublime, de insuspeitada existência. A sonoridade dos instrumentos em solos, uníssonos e contrapontos é como o alvorecer saudado por pássaros soando em regozijo à natureza. Aí estão Guinga e o Quinteto demonstrando que sucesso também pode ser um grupo instrumental inovando aos cinquenta anos de carreira e um compositor ouvindo suas músicas em interpretações que só a ousadia do Quinteto Villa-Lobos pode dar. Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4