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Suíte Atlântica


Deslumbrado com tamanha riqueza ambiental, ostentada em meio a uma enorme diversidade, Rosenblit cedeu aos seus encantos e criou o que bem se poderia considerar não como um simples desfilar de dez musicas gravadas, mas sim como a “Sinfonia Atlântica”.

Antes de qualquer coisa, vale reproduzir o entusiasmo com que ele se refere à musa no encarte do novo CD: “A variedade de tons de verde que colore a mata Atlântica sempre me chamou muito a atenção. Uma combinação perfeita de textura e cores. Distraidamente, essa observação acaba se traduzindo em música. Que a gente faz pincelando com calma. Procurando equilibrar os tons mais claros e os mais escuros, passando pelos intermediários. Experimentando os agudos, graves e médios que uma orquestra pode oferecer. Da Mata ao Atlântico. Um exercício lúdico tentando refletir a alegria dessas paisagens. Como sempre acontece comigo, imagem sugerindo música. Em Mata Atlântica, meu foco é o afeto.” E assim é.

Numa apaixonada viagem musical traduzida em imagens, melodias representam as variações de cores de plantas e árvores; ritmos são como os passos das feras que habitam seu chão; acordes reproduzem os pássaros em cantorias mil; dinâmicas de fraco e forte são como o correr menos ou mais caudaloso de seus rios e riachos; o resultado sonoro é a mescla da beleza com a exuberância que têm a mata e a música, dupla mágica que Rosenblit tratou de tornar siamesas.

Alberto Rosenblit arregimentou uma grande orquestra de cordas (doze violinos, quatro violas, quatro cellos e dois contrabaixos) e sopros (flautas, pícolos, clarone, oboé, corne inglês, saxes, trompas, trompetes, flugelhorns, clarinetas, trombones e clarone), além de uma cozinha que tem piano, violão, bateria, percussão, contrabaixo e vibrafone.

A produção artística é do trombonista Vittor Santos, a regência é dele e de Alberto Rosenblit e os arranjos são todos de Rosenblit, que sabiamente intercala o uso de parte dos naipes com o todo da orquestra, fazendo os movimentos da Suíte Atlântica (nove de Alberto Rosenblit, sendo um em parceria com Paulinho Tapajós e um de Fernando Leporace e Alexandre Lemos) se sucederem num trabalho musical muito bem mixado, de fôlego. Pena não se tenha adotado o critério de reconhecê-lo como uma suíte, pois não havendo necessidade de intervalo entre as faixas, o todo falaria por si.

Os instrumentos tocam por Rosenblit e pela mata Atlântica, como se cada acorde dissesse: “Ó musa encantadora, seus mistérios me alcançaram – deles sou vassalo. Ó musa misteriosa, penetro suas entranhas – doce amante carinhosa. Ó musa tão gentil, plena de luz, de sombra, de água vida – és a minha cara do Brasil.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4