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TODO MUNDO CHOROU QUANDO SERJÃO MORREU


O sentido título desde mini réquiem remete a dois motivos.


O primeiro sequer carece explicação porque o Serjão aí não é senão explicita homenagem a mais bela obra dele, Zelão, um grito social em plena platitude de céu, montanha e mar do começo da Bossa Nova.


O Serjão era como eu o chamava por mais de cinco décadas. Pela admiração pelo seu antológico Zelão, o sambista morto no carnaval.


Meu Serjão não morre no carnaval. E não será todo morro que chora por ele. Somos todos nós. Testemunhas da extraordinária diversidade de sua obra.


Quando presidi a Embrafilme premiei Sérgio com duas Corujas de Ouro. E enviei seu belíssimo (e injustiçado) longa, um raro musical no cinema brasileiro “Juliana do Amor Perdido” para muitos festivais internacionais.


Acode- me agorinha mesmo da alegria do Sérgio quando lhe disse que um famoso crítico francês declarou que o Brasil deveria trilhar a Linha dos musicais de Juliana por sua música esplendorosa. E concluía: mais musicais e menos sertão. Propunha esquecer o cangaço então em plena voga.


Choro meu Serjão por toda sua importante filmografia e sua inestimável obra musical. Choro meu Serjão por sua pintura e sua resistência. Choro meu Serjão por sua fidelidade às ideias generosas ao lado dos reclamos e injustiças, tanto ao país quanto à miséria de seu povo. Por fim, choro meu Serjão por seu poema sinfônico “João e Maria”, obra prima até hoje menos conhecida que tive a honra de viabilizar no Teatro Municipal com cada um de seus cinco movimentos cantados por cinco dos maiores cantores deste injusto país, liderados por Chico Buarque. Choro sim e muito, pela luz que agora se apaga, um dos maiores artistas do Brasil.

Que ficou a dever a ele mais reconhecimento e mais consagração.


Ricardo Cravo Albin