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Um álbum duplo para quem ama o samba


Gravado pelo grupo Samba de Fato e por Cristina Buarque, por tudo este lançamento é um clássico. Inclusive e principalmente pelo fato de que, tão ou mais importante do que os solistas, os belos sambas de Bolacha, como Mauro era conhecido pelos amigos, são exemplares. Como num disco de Johann Sebastian Bach, no qual, às vezes, o que mais importa são suas cantatas, ofertórios etc., mais até do que quem as interpreta, exceções à parte, O samba informal de Mauro Duarte vale pela obra que oferece. Longe de mim a heresia de pretender comparar a música do genial compositor alemão com a música igualmente genial de Mauro Duarte; nem dizer que Cristina (voz e pesquisadora do repertório), Pedro Amorim (voz, cavaquinho e bandolim), Alfredo Del Penho (produtor, pesquisador do repertório e violão de 6 e de 7 cordas), Paulino Dias e Pedro Miranda (voz e ritmo) não cumprem bem o papel de trazer à luz uma parte importante da trajetória musical de Mauro Duarte. Pelo contrário, eles o fazem com reverência e acuidade. Mas os sambas selecionados, feitos quase sempre em tom menor, marca registrada do repertório de Bolacha, têm vida própria. São belos porque assim nasceram, e, felizmente, músicos como estes cinco só fizeram realçar ainda mais o valor da obra apresentada.  Não faço parte do time que crê que músicas como as de Mauro Duarte devam ser levadas a todas as gerações. Creio que a cada um deve ser dado o direito de ouvir e buscar conhecer aquilo que lhe der na telha, mesmo que sua escolha recaia sobre um gênero que possamos não admirar. Entretanto, se alguém gosta de samba, conhecer as músicas de Mauro Bolacha é fundamental. O samba informal de Mauro Duarte é um álbum duplo com 31 sambas. Destes, dez foram finalizados por Paulo César Pinheiro em 2006, 19 anos após a morte do sambista (26 de agosto de 1989). Dos 31, quatro são apenas de Mauro Duarte; 19 são em parceria com Paulinho Pinheiro, sendo que Maurício Tapajós está presente em três deles e João Nogueira em um; dois sambas são com Adélcio Carvalho; um com Dona Yvonne Lara; dois com Noca da Portela; dois com Elton Medeiros e um com Edil Pacheco.Movidos pela tristeza que impregna as melodias de Bolacha, os versos de seus sambas são invariavelmente melancólicos. Ouve-se pela primeira vez um de seus sambas e podemos jurar que já o conhecíamos desde sempre: aí está a beleza de seu trabalho emocionante.Ao menos quatro obras-primas estão presentes nesta homenagem a Mauro Duarte: “À Procura da Felicidade” (Mauro Duarte, Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro, na qual Cristina, de forma emocionada, demonstra que nasceu para cantar este tipo de samba); “Acerto de Contas” (Mauro Duarte e P. C. Pinheiro), que Alfredo Del Penho canta com sua voz tarimbada no ofício; “Carnaval”, belo samba que Mauro e Adélcio Carvalho compuseram e Pedro Amorim interpreta, e muito bem, e ainda hoje a moçada canta nas rodas do Bip-Bip, o bar de Alfredinho, lá em Copacabana, reduto de boa música; “Sublime Primavera” (Mauro Duarte e P. C. Pinheiro), onde mais uma vez Cristina dá show de interpretação e ouve-se também a voz rouca, quase embargada, do poeta.(É pena, mas, ao esconder o surdo, a mixagem impede que o pulsar do ritmo se faça presente na marcação, o que acentuaria o lamento dos sambas em tom menor.)O samba informal de Mauro Duarte é CD para colecionador de preciosidades e para quem ama o samba e quer dar-se como presente o melhor do gênero. Lá estão músicas feitas por um intuitivo maravilhoso, que não tocava um instrumento de harmonia sequer, mas que carregava no peito o dom de emocionar.Mauro Duarte de Oliveira hoje é nome de praça em Botafogo, onde ele viveu seu destino de ser sambista brasileiro e boêmio boa-praça.Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4PS. A MPB está de luto, Darcy da Mangueira morreu aos 71 anos. Por ele, uma lágrima.