Loading...

Um baterista inspirado


Cada arranjo, cada solo, cada improviso, cada riff, cada levada, cada tema do álbum tem o mesmo jeitão de misturar samba com jazz, Brasil com o mundo.

Das onze faixas do álbum, seis são de autoria de Meirelles. Ele que, além de baterista exemplar, se vale do piano e suas possibilidades harmônicas e suas notas percutidas para bem compor.

Tudo começa com uma composição do próprio Pascoal, “Pro Helvius”, homenagem ao saudoso pianista Helvius Vilela. O arranjo, cheio de dissonâncias e com levada esperta, tem dois saxes altos, dois saxes tenores, trompete, teclado, contrabaixo, guitarra e bateria. Uma belíssima banda a serviço das ideias musicais de um baita músico.

A seguir, “Salseiro”, tema também de Meirelles. A guitarra de Leonardo Amoedo inicia belamente. Logo a bateria de Pascoal, com seu pulso firme e forte, puxa o ritmo. O contrabaixo de Sergio Barroso dá o peso que o samba carece para ser de bamba. A guitarra segue a levada da melodia. O cincerro marca e dá suingue ao bom ritmo.

Durante alguns compassos, a bateria toca a introdução nas peles e nos pratos. Após uma virada, a guitarra de Nelson Faria chega com a harmonia. O contrabaixo de Augusto Matoso vem junto. A guitarra sola. A bateria leva na caixa. Tudo para fazer de “Maracatudo” (Pascoal) um bom exemplo da diversidade da música brasileira.

O violão de Nelson Faria sola a introdução de “Pontanegra” (Pascoal). A baqueta da bateria roça o prato. O samba começa. O contrabaixo de Alberto Continentino pulsa. O solo do violão é precioso.

A quinta faixa é também um tema de Pascoal: “Malaysia”. Nelson Faria está novamente presente, além do contrabaixo de Augusto Mattoso, sem falar na onipresente e mágica bateria de Meirelles. O contrabaixo sola, o violão contribui com intensidade para a pujança da bateria. O violão suaviza. Volta o samba.

Com a guitarra de Alexandre Carvalho, o contrabaixo de Sergio Barroso e a bateria de Pascoal, começa o samba “Abaré” (Pascoal). O violão toca, a bateria vira, o baixo marca. Ao sabor do solo da guitarra, o ritmo deslancha.

Após as seis composições de Pascoal, outros cinco temas vêm com o mesmo desafiador ardor musical. E o show de música capitaneado por ele – que demonstra como poucos que a bateria pode e deve ser discreta, com as peles dizendo mais do que os pratos abertos –, é exemplo do amadurecimento desse baterista, referência de uma geração de músicos que brilham no instrumento. É a demonstração cabal de que a riqueza da música instrumental faz Pascoal Meireles se revelar plenamente inspirado.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4