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Um disco para se ter, guardar e ouvir muito


Dez músicos unidos pela disposição de tocar os arranjos originais escritos por Radamés Gnattalli para suas próprias obras e para a dos outros compositores que integram o repertório do CD.Izaías e Seus Chorões e o Quintal Brasileiro se dão, dentre outros gêneros, a choros, valsas e corta-jaca; mas também, e principalmente, a “Suíte Retratos”, obra de referência para toda a geração de chorões surgida nos anos 1970. Ao compô-la, Radamés a impregnou de simplicidade popular, aliada ao rigor técnico do erudito, e estimulou o início da derrubada de algumas das pontes que insistem em separar o inseparável.Só essa regravação já daria o aval de alta qualidade para todo o CD, mas tem mais. Ao ler no encarte o que logo eu ouviria, veio-me a certeza de que há discos que se tornam clássicos antes mesmo de serem gravados. Eles são aqueles que, conhecido o intérprete, escolhido o repertório, acertada a gravadora que o lançará, o resultado é antevisto antes que o primeiro acorde seja registrado.Para cada compasso, antevejo o som que ouvirei saído do bandolim de Izaías Bueno de Almeida e do violino de Luiz Amato, do cello de Adriana Holtz e do violão de sete cordas de Israel Bueno de Almeida, do violão de Edmilson Calupi e do violino de Esdras Rodrigues, do contrabaixo de Ney Vasconcelos e do cavaquinho de Henrique Araújo do Nascimento, do pandeiro de Tigrão e da viola de Emerson De Biaggi. Não tem como não dar muito certo! Ao iniciar a audição, logo de cara me vem “Lábios Que Beijei” (J. Cascata e Leonel Azevedo). Com arranjo de Radamés, violinos, viola e cello se misturam e se completam com o contrabaixo, o bandolim e o sete cordas. Cada instrumentista brilhando na sua praia e dando suporte à seara alheia. Logo na sequência está “Suítes Retrato”... Exatamente o que eu imaginava ouvir, meu Deus! Música boa, sem rótulos que a restrinjam, sem falsos pudores que a desmereçam. Genial!A cada solo uma admiração; a cada fraseado uma surpresa; a cada dinâmica um suspiro de inspiração...Durante o recital, fechando os olhos, senti-me ora no Teatro Municipal, ora num quintal, sob uma frondosa jaqueira; ora num salão renascentista, ora numa roda de choro. A música pulsando em toda a sua pujante dimensão. Ampla, larga, infinita emoção com tamanha diversidade, com tanta e imensa criatividade.Radamés Gnatttalli – Valsas e Retratos é um disco que não deveria faltar na prateleira de nenhum apreciador de música boa do mundo. Tê-lo sempre à mão é como dispor, a tempo e a hora, de um vigoroso bálsamo que alivia as dores da vida e nos traz saudades boas.Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4