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Um Oscar para o leitor


A biografia Trumbo (Intrínseca, R$ 39,90), lançada em 1977 pelo jornalista Bruce Cook, foi a base para o filme que indicou Bryan Cranston ao Oscar – cuja premiação será neste domingo. Entrevistas com amigos, companheiros de lida e militância, além do próprio Trumbo, recontam sua trajetória, pouco conhecida pelas novas gerações. Versátil nos temas que desenvolvia, escreveu quatro romances e dirigiu a adaptação  cinematográfica de um deles, o tocante Johnny vai à guerra, que lhe rendeu prêmio em Cannes. Faltou à biopic sobre esse personagem tão aguerrido na vida real um roteirista que fizesse jus ao biografado.

Evitar ler a história antes de assistir ao filme deveria ser regra para não perder as surpresas do roteiro. Comparar as duas narrativas é um perigo. Cinema precisa de virada, literatura, nem sempre. A cuidadosa construção de Quarto (Verus, R$ 47,90), da irlandesa Emma Donoghue, perde muito da perspectiva de uma vida em confinamento oferecida no texto original  pelo olhar do pequeno Jack. Nascido em cativeiro, ele percebe o quarto como o ventre materno – seguro, quente, regrado. A perspectiva do rompimento do cordão umbilical, lentamente disposta no romance, é substituída pelo suspense em situações angustiantes para a plateia, enquanto a intensidade da relação entre mãe e filho se dilui para o espectador.

A velocidade na superposição de relatos e imagens do filme A grande aposta pretende reproduzir o ritmo alucinado dos negócios no mercado de capitais, cujo colapso financeiro enriqueceu alguns administradores de fundos que investiram no colapso financeiro de 2008. O jornalista Michael Lewis explica o comportamento do mercado e como se avaliam os riscos de acordo com as intenções de uns poucos em A jogada do século (Best  Business, R$ 45). Louvando o tom bem-humorado do roteiro, Lewis diz, no posfácio da nova edição, acreditar que o filme tenha levado multidões a compreenderem melhor como hipotecas subprime arruinaram o sistema econômico mundial, iniciada nos Estados Unidos.  Ele também recomenda  aos escritores que encarem suas histórias vertidas para o cinema  “como um espectador”. E lembra que na estreia da primeira versão cinematográfica de O grande Gatsby, Scott e Zelda Fitzgerald abandonaram a sala de projeções e que Tom Clancy brigou com a Paramount durante a produção de Jogos patrióticos.

Sem tanta ação ou suspense quanto nos filmes de 007, Uma ponte entre espiões (Record, R$ 49), de James B. Donavan, relata o processo de troca do piloto americano Francis Gary Powers, preso na URSS, pelo chefe da espionagem soviética nos Estados Unidos, Rudolph Ivanovich Abel.

Já o diplomata e autor de romances históricos Michael Punke, faz questão de informar aos leitores que O regresso (Intrínseca, R$ 39,90) é uma peça de ficção, baseada na saga do aventureiro Hugh Glass – que foi pirata, viveu entre os índios no Arkansas e acabou abandonado por companheiros da Companhia de Peles Montanhas Rochosas, depois de atacado por um urso. Determinado a se vingar, ele atravessou cinco mil quilômetros atrás dos desalmados, ganhando vida, nas telas, na pele de Leonardo DiCaprio.


Vencedor do último Oscar de melhor ator, o inglês Eddie Redmayne concorre novamente na categoria por interpretar o pintor dinamarquês Einar Wegener, um dos primeiros transexuais a assumir seu gênero, com o apoio da mulher, Greta, também artista. O romance A Garota Dinamarquesa (Rocco, R$ 38,50), de David Ebershoff, é belo, respeitoso com os personagens e, acima de tudo, delicado.