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Um violão comovedor


Exímio violonista, a ele o instrumento deve o carinho com que é tratado e retribui com a melhor das sonoridades da caixa e do braço, por onde se estendem as seis notas que, nas mãos de Penezzi, soam como se fossem mil e uma.

Um violonista com asas de borboleta, e não dedos nas mãos, tamanha é a delicadeza com que vai às cordas de seu instrumento. Deve-se prestar muita atenção a Alessandro Penezzi, pois logo ele será reconhecido como um dos melhores violonistas brasileiros de todos os tempos.

Em Penezzi impressionam a limpeza e a pureza com que interpreta cada uma das músicas. Seus graves são gordos, seus agudos, leves, sempre tocados em nome do amor ao violão e à música.

Invariavelmente imprimindo às composições o toque fascinante de quem faz da concisão o seu norte; da suavidade, o sul; do virtuosismo, o leste; do arrojo, o oeste; de seu violão, a rosa-dos-ventos.

Penezzi dedica cada uma das faixas do CD. Há faixas dedicadas à esposa Ana, à mãe dona Vera e a seus filhos Nena e Heitor; aos violonistas Sérgio Assad, Yamandú Costa, Marco Pereira, Maurício Carrilho, Guinga, Jair Teodoro de Paula e Lúcio Yane; ao Maestro Radamés Gnattali e, por fim, ao produtor Capucho.

A cada um, dá o seu estilo; a cada um, seu tributo; a cada um, o presente dedilhado em cordas de extremo bom gosto, premidas da maneira mais calorosa e suave que requerem. Cada um com a harmonia mais rigorosa e o ritmo mais adequado ao carinho dado a quem tanto ama, a quem tanto admira.

Para Ana, um choro terno, que pulsa sem dar tempo de respirar, e uma valsa tão bela quanto amorosa. Para dona Vera, um lundu recatado. Para Nena, uma valsa que nina e acalma. Para Heitor, outra valsa em feitio de acalanto.

Para Capucho, a homenagem em forma de deliciosa lembrança de Baden Powell. Para Radamés, estudo de acordes, com andamento acelerado e força melódica.

Para Sérgio Assad, um estudo para violão de “destroncar” dedos. Para Lúcio Yanel, curto estudo cheio de notas arpejadas. Para Guinga, um estudo de execução complexa, a cara do homenageado. Para Marco Pereira, outro estudo, também de difícil execução. Para Jair Teodoro de Paula, mais um estudo, este mais dolente, embora com o mesmo rigor rítmico e harmônico. Para Maurício Carrilho, um choro que remete a dois mestres do gênero: Ernesto Nazareth e João Pernambuco. Para Yamandú, segundo o próprio Penezzi, um choro no qual a “melodia melancólica revela o coração nas mãos e a faca na garganta”. Seja com o coração na mão ou com a faca na garganta, o que a ele importa é a fome de tocar e compor.

Este é Alessandro Penezzi, inesperado e teórico, tradicional e contemporâneo.


Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4