Uma baita banda toca Marcelo Martins
Consequência natural de uma trajetória bem-sucedida, Martins decidiu compor. E o fez de forma a despertar o desejo de gravar suas criações. Estava, então, escrita a fórmula que culminaria em Do outro lado (independente), seu primeiro CD: reúna um primoroso e numeroso grupo de instrumentistas – cada um mais sagaz do que o outro; apresente-lhe canções de gêneros variados, capazes de despertar o prazer de tocar e improvisar; crie arranjos em que o som surja de naipes formados por instrumentos da mesma família (sopros ou cordas) ou que una instrumentos distintos, sempre na busca de sonoridades que trarão prazer à sensibilidade de quem toca e de quem ouve... Pronto! Aí estão uma baita banda e o ambiente onde a música exercitará o dom de existir para encantar.
Produzido por Marcelo Martins e pelo trombonista Vittor Santos (autores dos arranjos), o álbum tem dez faixas, nove de autoria de MM e uma do compositor e cantor Fred Martins.
No disco, os saxes tenor, alto e soprano de Marcelo são como pontos de luz iluminando a cena em que também reluzem instrumentos tocados por mãos de três dezenas de grandes nomes da música brasileira.
O CD abre com “Algo a Dizer” (MM), declaração de amor ao saxofone (num belo solo), que serve de emotiva preparação para o que se ouvirá a seguir.
“Confluência dos Rios” (MM) começa com bateria (Renato Calmon) e percussão (Armando Marçal). Logo vêm piano (Glauton Campello) e o naipe de sopros, além do pícolo de MM. A seguir o sax tenor (MM) sola a melodia. O ritmo segue. Os sopros voltam. O improviso passa a ser do piano – bateria e baixo (André Rodrigues) apoiam. O sax toca com bateria, baixo e sopros. A seguir, junto com a flauta (MM), o sax volta a brilhar. O clima latino da música, imprimido pela baita banda, empolga.
“Amanhecendo” (MM). Após introdução de sopros, um dos bons momentos do CD: o sax tenor (MM) tocando com o violão (Ricardo Silveira), segundados por flugelhorn (Jessé Sadoc), tuba (Eliezer Rodrigues) e trompa (Phillipe Doyle).
Em “Do Outro Lado” (MM), a música mais bonita do disco, o piano (Luiz Avellar) começa suave e belo. A bateria (Jurim Moreira) e o baixo acústico (Zeca Assumpção) se achegam. O sax aveludado de Marcelo Martins improvisa, a respiração do instrumentista é ótima. O piano improvisa... Meu Deus!
Marcelo Martins, seus companheiros e o CD Do outro lado atestam o vigor da música instrumental contemporânea.
Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4
PS. Lá se foi o músico Marku Ribas. Mas ele estará sempre em minha memória como “O Louco”, seu personagem em Alabê de Jerusalém, obra-prima de Altay Veloso.