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Uma cantora a ser ouvida e admirada


O trabalho conta com as participações de Zeca Baleiro e Alberto Trabulsi e tem composições dela própria, como “No Movimento” e “Um Instante”, esta em parceria com seu conterrâneo, o poeta Ferreira Gullar. Há também canções dos compositores maranhenses Josias Sobrinho (“Dente de Ouro”) e César Teixeira (“Parangolé”, que Zeca Baleiro canta com ela). Outros destaques são “Fanatismo” (Raimundo Fagner e Florbela Espanca), “Bambayuque” (Zeca Baleiro) e “I Never Promised You a Rose Garden” (Joe South), que na versão de Rossini Pinto virou “Mar de Rosas”.

Com arranjos instigantes, plenos de raízes maranhenses, fica clara a opção de Flávia Bittencourt pelo pop. A emoção de sua voz afinada, sensível, aprofunda-se a cada inflexão que puxa a interpretação para o centro do canto.

Dona de um vibrato que se encaixa à perfeição nos finais das sílabas, seu cantar é fluido e tem o dom de deleitar mesmo aos que se dizem saturados pelo “excesso de cantoras na praça”.

A moça canta muito bem. Suas composições têm harmonias simples e saudável desejo de ser popular. Seus versos instintivos, entretanto, não retribuem à qualidade da melodista e da cantora.

Mas Flávia Bittencourt é uma grande intérprete que está no mercado em busca de ser ouvida e apreciada. Em “No Movimento”, que abre o CD, ela é firme, ainda mais amparada por instrumentistas que dão o peso de sua pegada para fazer da canção uma fortaleza musical. A delicadeza está presente no início. Logo o bicho pega. A música ganha ritmo. As guitarras distorcem, a bateria soa roquenrrol.

“Fanatismo” desperta a dúvida sobre se a sua escolha não poderia ter sido uma cilada, já que a grandiosidade dos versos de Florbela já fora dissecada pela voz de Fagner. Dúvida à toa: a levada do arranjo atrai a emoção do ouvinte até quase esgarçar a pele em arrepios. Guitarras, baixo e bateria refletem um ar de tensão. Sobe o conceito de uma cantora que corre riscos por saber que pode fazê-lo para assim se tornar maior.

Em “Parangolé”, Zeca Baleiro faz bom duo com Flávia. A música nordestina é a praia deles. O coro come. A letra é ótima e a interpretação faz jus a ela e também à boa música.

O poema de Gullar ganhou bela melodia de Flávia. O teclado inicia junto com o canto. A sanfona chora, a bateria acompanha. E tome de versos ricos (À luz presente/ Sou apenas um bicho transparente) e de criatividade.

“Mar de Rosas” dá oportunidade a Flávia de se mostrar tão diversificada quanto capacitada ao ofício de surpreender com sua cantoria. Só cello e violão... A voz surge desprendida, enlevada, reverente... Meu Deus!

Assim, Flavia Bittencourt se revela íntegra. Coração e alma a serviço da música que a representa e a todos nós.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4