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Uma história de Copacabana


A velhinha morava em Copacabana, em companhia apenas de um velho cachorro de estimação, com quem dividia os passeios matinais no calçadão, o almoço nos restaurantes da orla e o sofá na hora da novela.

Um dia o cãozinho bateu as botas e a velha resolveu que deveria homenageá-lo com um funeral decente, cova de terra em lugar tranquilo, o que se deseja para qualquer ente querido. Ligou para uma amiga que tinha sítio pras bandas de Vargem Grande e combinou de levar o corpo do velho amigo para ser enterrado no pomar, entre mangueiras e jabuticabas.

Pegou uma caixa de televisão vazia, forrou com panos de saco e travesseiros, e acomodou o cachorro morto ali. Fechou a caixa bem fechada e tomou um táxi em direção ao sítio onde o bicho encontraria sua última morada. Só que deu o azar de parar o carro de um taxista cretino e mal intencionado.

O canalha bateu o olho na caixa de papelão, imaginou estar transportando um aparelho de TV novinho, conferiu a idade da passageira e se armou de más intenções. Depois de atravessar as movimentadas ruas da Barra e do Recreio, deu o bote:

– Salta aí, vovó, pega um ônibus de volta e vai à luta. Vou ficar com essa televisão.

A velhinha ainda tentou argumentar, mas o safado nem deu chance:

– Pula fora, anciã! Não percebeu ainda que isto é um assalto?!

A velha senhora desceu do táxi, chorando, dando a graças a Deus por não ter acontecido nada pior, e voltou para casa. O otário que se achava esperto foi para casa conferir o ganho. E deve estar até hoje arrancando os cabelos diante do corpo do animal sem vida.

A vida às vezes (poucas) é justa. Malandro demais às vezes se atrapalha.