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Uma ode à terra brasileira


Cristina Saraiva é ativista na defesa dos interesses da área musical, mas antes de tudo é troveira do encanto. Com seus versos, suas opiniões se tornam líricas; com suas metáforas, o real se faz presente e o fantasioso se revela nu e cru. Cristina Saraiva é produtora de discos. Porém, contrariando os sombrios vaticínios que apontam a morte do CD para amanhã, logo cedo, criou selo próprio, Tiê, e com ele apresenta ao público nomes pouco conhecidos, mas talentosos. E foi pelo Tiê que Cristina lançou Terra Brasileira – Cristina Saraiva por Manuella Cavalaro.Para tanto, teve a lúcida ideia de convidar a participar uma jovem e praticamente desconhecida cantora. Mas que grata surpresa, a Manuella! Sua afinação é fluida, natural. Suas divisões, facilitadas por uma respiração que demonstra estudo, são originais e adequadas ao que sugere o gênero das canções que interpreta. Sua técnica é elogiável. E o que mais impressiona em seu cantar é perceber que a maturidade ainda está por vir.Todas as doze músicas do álbum têm letra de Cristina Saraiva. Com Breno Ruiz, ele que é também o arranjador e o diretor musical do disco, ela escreveu versos para quatro melodias: “Mar Aberto”, “Amazônia”, “Canção do Solitário” e “Dom de Renascer” (esta última cantada por ele). Com Lydio Roberto ela fez “Nhundiaquara” e “Nossa Senhora da Luz dos Pinhais”, e, com Simone Guimarães, “Ê Saudade” e “Lira da Terra”. Rafael Altério canta com Manuella o seu choro “Olhos do Tempo”, este que, junto com “Canção do Solitário” e “Ê Saudade, é o mais belo momento do álbum; Felipe Radicetti está presente com “Cadafalso”, sobre as crianças que vivem nas ruas do Rio de Janeiro; Guilherme Rondon traz a pantaneira “Breve Estrela”, e Marcílio Figueiró, “Terra Brasileira”, que dá título do CD. O resultado é um CD autoral, pleno de unidade poética e musical – uma louvação de Cristina aos brasileiros. Uma visão, ora imaginária, ora verdadeira, reveladora do que traz na alma. Deve-se também reverenciar a qualidade dos arranjos de Breno. Ao arregimentar bons instrumentistas, ele realçou a brasilidade de cada canção, dando coesão ao trabalho.As músicas se entrelaçam pelos versos de Cristina, e o Brasil brota luminoso das ótimas performances de Pedro Altério (violões de aço e de náilon), Felipe Brisola (baixo acústico, elétrico e fretless), Gabriel Altério (bateria), Neymar Dias (viola caipira), Paulo de Almeida (percussão), Marisa Silveira (cello), Ariane Rodrigues (flauta) e Breno Ruiz (piano e acordeom). E Manuella não perde a chance, esmera-se, dá o seu melhor. Para Terra Brasileira, tendo nas mãos a realidade do mar e do sertão, e nas fantasias, quimeras, Cristina Saraiva oferece hinos oníricos à sua terra.Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4