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UMA PROMESSA AO RIO. A VOLTA DO CANECÃO

foto: divulgação


“Uma luta memorável, essa de um grupo de cariocas a defender a existência do Canecão”. Cândido Mendes de Almeida em 2008.


A notícia alegrou a cidade do Rio, ao se saber que finalmente a UFRJ aprovou um vencedor para a concessão da volta da sua mais célebre casa de shows. Fechada em 2010, depois de uma longa disputa – até hoje nunca compreendida bem por mim – entre o empresário Mário Priolli (seu fundador, que a inaugurou em 1967 como uma choperia, logo a transformando no mais cobiçado palco da cidade, com fama nacional e internacional), a Casa Canecão resultou em prejuízo final para o empresário que a idealizou e a transformou em ícone no mundo inteiro.


Poucos anos antes de ser fechada, um grupo de cariocas que liderei conseguiu o quase impossível, tombá-la para evitar as notícias assustadoras que davam conta de que ali a especulação imobiliária estaria planejando a edificação de 2 ou 4 arranha-céus. Mas cessado o risco que se anunciava, os desentendimentos entre a Universidade e os Priolli persistiriam. No que resultou a retirada do empresário-fundador do Canecão que se exilou em Cabo Frio, para logo depois morrer. Ao que consta de puro desgosto e zero vontade de lutar por tudo o que havia investido ali. Triste fim do Mario Priolli.


Recordo que, desolado ao ver uma casa toda montada e equipada (às vésperas das Olimpíadas do Rio e da Copa do Mundo, que careciam de palcos na Zona Sul) ser abandonada, levei há 10 anos um Reitor da UFRJ ao Prefeito Eduardo Paes para que um espaço daquele não ficasse desativado. Por nada, e para nada. Apesar da boa vontade das partes, nada progrediu. E o Canecão foi sendo desmontado aos pouquinhos, sem se perceber. Até que meus amigos Cacá e Mario Monteiro há dias me telefonaram com a notícia animadora: o consórcio Bonus Klefer, com lance de quatro milhões e meio de reais, havia arrematado o leilão da UFRJ. E um novo Canecão seria reaberto em 2025. Mas não só: no espaço de 15 mil metros quadrados, serão construídos 70 salas de aula, salas para exposições, um parque aberto, além da restauração do painel do querido Ziraldo. No dia do leilão, não se sabe bem por que, houve protestos de alunos e funcionários contra a nova utilização do local. Certamente que nem todos na Universidade estão a favor. Alguns arguem que vender-se ingresso é puro capitalismo selvagem, abjeta exploração de um espaço público... Será?


De todo modo, este cronista, que escreveu inúmeras páginas por anos a fio em defesa da reabertura de espaço que se incorporou ao patrimônio sensorial, afetivo e auditivo da cidade, insiste em que a maioria da população quer ver o futuro. Ser utilizado e festejado. Não trancafiado em paredes ideológicas radicais. Os artistas, sobretudo os melhores, têm todo o direito de ganhar pelos seus shows, pelos seus esforços pessoais. E viver condignamente.

Que bobagem é essa de que os artistas deveriam exibir-se sem cachês individualizados e ganhar salários burocráticos do Estado para se exibir sempre sem cobrar ingressos?

Já profetizou a memorável Cacilda Becker – “Não tire do artista o que o mantém vivo e livre de censuras, seu próprio trabalho. Seus esforço e suor.” E, acrescento eu, seu talento.


Ricardo Cravo Albin


P.S-1: Uma lágrima sentida pela morte de Sueli Costa, grande figura da melhor MPB.

P.S-2: E outra igualmente torrencial pela perda de Paulo Caruso. Daqui meu abraço muito entristecido ao enorme Chico Caruso, sua outra metade.