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Uma verdade inconveniente


O envelhecimento da sociedade brasileira é o pano de fundo de A Mãe Eterna – Morrer é um direito (Record, R$ 32,90), da psicanalista Betty Milan, que descreve a relação de amor, desvelo, carinho e irritação entre uma mulher de 99 anos e sua filha, a narradora do romance. Independente, a mãe se insurge contra as cuidadoras, dá folga para empregadas, pega táxi sozinha. A inversão de papéis revolta a filha, cansada por cuidar sozinha da mãe. Como na maioria das famílias brasileiras, o encargo de zelar pelo velho é da filha. O irmão só aparece para visitas alegres e breves. Ao mesmo tempo em que sonha com a morte da mãe, que a libertará da preocupação incessante, a filha quer preservar toda a história da família, arrumando álbuns de fotografias, conversando sobre os antepassados. A mãe carrega com ela as memórias, as tradições, as raízes que impelem e ao mesmo tempo fazem a filha se curvar para a casa, os deveres, a proteção.


A jornalista Marleth Silva também se debruça sobre a longevidade dos brasileiros em Quem vai cuidar de nossos pais? (Viva Livros, R$ 22,90). Demência, perda de visão, surdez, inatividade, Alzheimer são alguns dos males que fazem parte da natureza. Gastos altíssimos com planos de saúde, hospitalizações constantes, consultas médicas – a vida do idoso é cara e cansativa para quem dele cuida. O quadro desanimador está em muitos dos relatos dos filhos, mesmo os que dependem dos recursos econômicos dos pais para sustentar a família. Há casos de maus tratos aos idosos, mas a maioria dos filhos se considera encarregado natural pelos cuidados com os idosos, sem recorrer a casas de repouso.  


Longe do aspecto desalentador, a antropóloga Miriam Goldenberg levanta diferentes visões sobre a velhice em Velho é lindo! (Civilização Brasileira, R$ 39,90), que reúne estudos de diversos especialistas sobre os idosos do Terceiro Milênio. Doenças, vaidade, o culto ao corpo e à eterna juventude são discutidos de maneira acessível, levantando temas pouco relacionados à maturidade, como a procura de pornografia pela Internet e as “coroas periguetes”, forma pejorativa que classifica as mulheres que se relacionam com homens mais jovens – e que têm uma vida sexual ativa. A percepção do envelhecimento e os esforços para retardar seus avanços se mostram muito importantes para quem vive no Brasil, um dos líderes mundiais em consumo de cosméticos. A obsessão com a estética se escora na preocupação com a saúde, porém, embutido no incentivo à aparência jovial, está uma indústria que vive da beleza e causa profunda insatisfação em quem envelhece, que busca, muitas vezes, a reclusão por não aceitar as mudanças físicas, lembram os estudiosos do tema. A sociedade hipersexualizada, em que o corpo é cultuado por oferecer prazer, também exclui esses velhos, que não podem se despir na praia, como aconteceu com a atriz Betty Faria, que, aos 71 anos, foi alvo de críticas por usar biquíni. Uma contradição na cidade cujo bairro mais conhecido, Copacabana, tem maioria de população idosa.