Loading...

Viva, Mvsica!


Mvsica (lançamento da gravadora do próprio Mario) se faz na sonoridade de diversas formações instrumentais de cada uma de suas 12 faixas. Elas revelam íntimos diálogos musicais entre os instrumentos escolhidos para tocá-las. Parcerias tão momentâneas quanto inspiradas, valem-se de uma cozinha especial para fazer raiar seus talentos. Convém salientar que os instrumentos a que nos acostumamos chamar de "cozinha", na música eles são os convidados de honra da "sala de visitas" e tocam com talento. Toque o instrumento que tocar, músico é importante. Em Mvsica, Marcos Nimrichter é o piano, Jurim Moreira é a bateria, Armando Marçal é a percussão, Jorge Helder é o baixo, Ricardo Silveira é a guitarra, Vittor Santos é o trombone, Teço Cardoso é a flauta e o sax-barítono, Jessé Sadoc é o trompete e o Flugelhorn, Rodrigo Campello é a guitarra, Jaquinho Morelenbaum é o cello, Toninho Ferragutti é o acordeom, Antonia Adnet é o violão, João Donato é o piano suingado, Marcelo Martins é o sax-tenor, Philip Doyle é a trompa e Mônica Salmaso é a voz - ao ouvi-la cantar "Paulistana nº1" (Cláudio Santoro), percebe-se que a seda, na verdade, nasce na garganta dela.    Disco de sonoridades, Mvsica explora o potencial integral de cada instrumento, tira deles tudo o que têm para dar. E na mão de cada músico, eles não se acanham. A mixagem funciona como outro músico, pois é protagonista. Cada detalhe - e olha que Mvsica é feito de infinitos detalhes musicais - é percebido em sua plenitude sonora. Nada se perde, tudo está presente. A utilização de uníssonos inesperados traz a sensação de que a cada compasso, ou no próximo acorde, haverá surpresas.Disco autoral, Mvsica reúne seis composições só de Mario Adnet; quatro em parcerias diversas: Joyce, Carlos Sandroni, Rodrigo Campello e Ricardo Marasciulo; uma de Cláudio Santoro e outra de Camargo Guarnieri. E o CD começa com "Do Coração" (Mario Adnet). Samba que parece feito para o violão, que começa em acordes, e também para a voz de seu autor, que soa bonito no belo dueto com o trombone lamentoso de Vittor Santos.A faixa três, "Andando na Praia", inicia com o baixo e o violão abrindo espaços para o piano tocado pelo sempre genial João Donato. E a guitarra de Ricardo Silveira mostra a bela melodia, enquanto Jurim Moreira leva docemente o ritmo em sua bateria e o trompete com surdina de Jessé Sadoc faz parceria com o violão de Adnet, antes do improviso com notas sabiamente econômicas."Baiambê" é a faixa cinco. Toninho Ferragutti, com o bom gosto que o caracteriza, resfolega sua sanfona, enquanto Mario, o pai, e Joana, sua filha, ela solando, fazem de seus violões instrumentos a valorizar esse baiãozinho danado de gostoso.A faixa seis é a salsa "Salsatlantic", na qual o quarteto de metais conduz a levada e destaca a harmonia moderna concebida por Mario Adnet não só para ela, mas também para todas as músicas que compõem Mvsica."Dança Negra", de Mozart Camargo Guarnieri, é a melhor faixa do disco - corro o risco de ser injusto com as outras 11, mas correr riscos é o mínimo que o autor destas linhas pode fazer diante de um trabalho pleno de ousadias. Nela, o violão sola, às vezes em uníssono com a flauta, enquanto, no contratempo, o piano quebra o ritmo, dando a sensação de ver a música pairar no ar.Mario Adnet não mediu forças. Seus companheiros músicos não negaram aptidão. E Mvsica, um dos grandes discos lançados no ano passado, garantiu lugar de destaque na moderna discografia do instrumental brasileiro. Viva, Mvsica!Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4 e autor de O Gogó de Aquiles, ed. A Girafa. Seus textos são publicados semanalmente no Acontece na  no Diário do Comércio (ACSP), Meio Norte (Teresina), A Gazeta (Cuiabá), Jornal da Cidade (Poços de Caldas) e Brazilian Voice (EUA). No rádio, sempre às segundas-feiras, das 15h às 16h, "O Gogo de Aquiles" vai muito bem, obrigado. Você poderá escutá-lo (no Rio de Janeiro) sintonizando diretamente na Rádio Roquete Pinto, ou (fora do Rio) na internet: www.fm94.rj.gov.br .