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Viva Ernesto Nazareth!


Foi para homenageá-lo que o cantor Carlos Navas propôs ao pianista João Carlos Assis Brasil a gravação do CD Nazareth Revisitado (independente). Em poucas horas de gravação estava finalizado o álbum que, além do piano de João Carlos e seus arranjos, contou com as vozes de Carlos Nava (que concebeu e produziu o projeto), cantando “Bambino” e “Odeon”, esta última uma parceria de Nazareth com Vinícius de Moraes, e de Alaíde Costa, que cantou “Sertaneja” (Nazareth e Catulo da Paixão Cearense).

A atuação de Assis Brasil é soberba. A sensibilidade de seus dedos dão às teclas a certeza de estarem sendo cortejadas por alguém que as idolatra. A suavidade com que vai ao pianíssimo e a firmeza que imprime ao fortíssimo demonstram a segurança de um intérprete que conhece o seu instrumento. De seus dedos parecem brotar lágrimas pela melancolia presente em alguns temas de Nazareth, e de suas pontas vem a energia que alavanca momentos por si só já em alta cadência.

O disco tem oito faixas. Nelas há duas suítes: a primeira com três músicas, “Brejeiro”, “Faceira” e “Apanhei-te, Cavaquinho”, e a segunda com cinco, “Quebradinha”, “Ouro Sobre Azul”, “Escovado”, “Até que Enfim” e “Atlântico”.

“Batuque” é a primeira faixa. Composto como tango, ele se assemelha a um baião. O piano faz da melodia uma mágica a ser desvendada. Após demonstrar sua riqueza harmônica, um afretando leva à sofisticação que vem pela mão direita triscando suavemente as teclas. Aos poucos o ritmo volta. A brejeirice reina. Acordes finais grandiosos levam ao final.

A terceira é “Bambino” (Nazareth e José Miguel Wisnik), cantada por Carlos Nava. Com um grave sonoro, ele dá vida às palavras.

A mais bela interpretação do piano está em “Coração que Sente”. João Carlos faz da valsa fonte de lamentosa beleza. Linda!

 Coube a Alaíde Costa cantar “Sertaneja”. Só que, com um tom bem acima da sua extensão vocal, sua interpretação ficou abaixo do que dela se espera. Também ficou abaixo da expectativa a interpretação de Carlos Navas em “Odeon”. Como a melodia alterna frases com notas muito agudas e outras bastante graves, ele viu-se obrigado a alternar o canto ora numa oitava abaixo, ora numa oitava acima. Assim, Navas e  Alaíde não conseguiram fluir seus cantares como tão bem sabem fazer. E nós sabemos que são capazes de fazer.

Ao assumir o sabor da brasilidade sonhada por Ernesto Nazareth, o CD de João Carlos Assis Brasil traz à luz uma parte importante da sua obra. Um belo disco. Impossível não recomendar que você busque comprá-lo, leitor.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4

PS. Perdemos uma de nossas maiores cantoras. Marlene, seu vigor e sua voz serão sempre lembradas por nós, seu admiradores. Meu Deus, que tristeza.